Últimas leituras


Venho postando impressões rápidas de minhas leituras em status de whats app ou no próprio instagram, mas como pude abandonar o blog onde por muitas vezes essa tarefa contribuiu para uma compreensão mais aprofundada ou mesmo para divulgar uma obra e motiva sua leitura? Pois é exatamente por isso, no fim dessas férias regadas a leituras, animes, filmes e muitas conversas sobre esse assuntos que pretendo aqui fazer um relatório sobre essas coisas as quais foco e foquei minha atenção nas férias, entretanto por enquanto: minhas leituras.


Imagem relacionada




Dias e Dias



Mais um livro de Ana Miranda lido - li Desmundo - e mais surpresas: a poesia na prosa, o fluxo de consciência de uma mulher apaixonada pelo poeta nacionalista e dono dos famosos versos "minha terra tem palmeira onde canta o sabiá",  Gonçalves Dias. Somos postos na mente de Feliciana, quem nutre uma paixão pelo autor desde a infância - quando recebeu num papel que embrulhava os feijões que ela havia comprado na mercearia do pai dele, trechos de um poema idolatrando seus olhos, assim acreditava.
Sendo um romance histórico, percebemos que a introspecção e imersão a que o leitor é colocado faz a obra ser muito mais do que isso, aliás me arrisco a dizer, criando uma atmosfera que condiz com o romantismo. No entanto, essa aura poética e sonhadora não tira o mérito de Ana, porque muito antes de o escrever, muita pesquisa bibliográfica foi realizada.
Depois de ter lido Desmundo, eu poderia não ter me surpreendido com a adequação da linguagem a época em que a história está situada, mas ainda assim a inteligência dessa autora, nascida no Ceará e pupila de Rubem Fonseca, fascina.
Estou lendo atualmente Boca do Inferno, obra também histórica, sem preâmbulos poéticos, mais seca, provavelmente por retratar o Barroco no Brasil com Gregório de Matos, autor
conhecido por ousar falar o que "lhe desse na telha"; ele ousava dizer palavras até hoje consideradas tabus em pleno século XVII!
Enfim, Dias e Dias e todas as obras de Ana Miranda merecem atenção e apreciação.



Um Hospício no Japão



Livro número um de uma trilogia.
Morio Kita autor não tão conhecido no Brasil - Haruki Murakami é o mais lido provavelmente - me surpreendeu nessa epopeia-tragédia-comédia de uma família japonesa.
Difícil não se apegar aos personagens, não rir, não chorar com a decadência de uma família. Como o próprio nos remete, a família Nire sustentada por Kiichiro, o grande patriarca e psiquiatra, é dona e gerencia junto com outras diversas pessoas e funcionários um Hospital psiquiátrico no Japão.
Com capítulos iniciados com descrições em sua maioria da natureza, tanto exterior quanto interior dos personagens, vamos nos acostumamos a magnitude do romance que pode cansar exatamente por isso, mas por tentar contar a vida de várias gerações de uma família, pode-se perceber porque seu tamanho monumental. E é exatamente sobre isso: O tempo. Como o tempo ajuda a construir e destruir pessoas e como essas pessoas não têm controle sobre o seu movimento, o seu avançar. E por isso nos identificamos com as falhas, os defeitos, as virtudes e a luta desses personagens por tentar vencer as forças da natureza.
As descrições das paixões de Momoko, uma das filhas de Kiichiro, pelos filmes; a ambição do patriarca; a busca por conhecimento de Tatsuki e o consequente sentimento de fracasso e não pertencimento dele, um de seus cunhados e sucessor da direção do hospital. Esses são alguns exemplos, pois como já dito, nesse monumental romance muitos são os personagens que cativam e mesmo que seja longo, sua leitura valerá.


A Pomba

Imagem relacionada

Baixei rapidamente essa novela do mesmo autor de Perfume, não esperando pouco, embora o final deste tenha sido idealizado, mas por se tratar de lenda, perdoemos...
Em A Pomba um homem que seguia uma rotina e por nada gostaria que ela fosse quebrada por algum imprevisto é surpreendido ao ver uma pomba, em frente da porta do seu quarto. A partir do encontro com o olho impenetrável do pássaro,  que o olha de volta, ele percebe que na aparente ordem existe caos. O caos está ali pendurado, prestes a desabar.
Esse encarar para um olho que olha e suga, lembra o poema O Corvo de Edgar Allan Poe: Never more. E se analisássemos, tanto o corvo quanto a pomba têm simbologias semelhantes: mensageiros, aves de mau agouro. Mas a pomba, tão bonitinha e silenciosa? Tenho que lembrar que esta ave pode disseminar doenças e já o fez?



Lavoura Arcaica



Raduan Nassar é um autor brasileiro que abandonou a carreira da escrita para viver em uma fazenda. Mas antes disso produziu um obra que deixou marcas na literatura, principalmente pela construção de sua linguagem que mescla poesia, "canta"  - pelo menos foi isso que percebi nesse primeiro que li dele.
Na história invadimos os pensamentos do filho que fugiu de sua família porque não conseguia ser livre, já que seguindo os seus antecessores, seu pai era o patriarca, aquele que era o sustentáculo da família. Há portanto claras referências a Bíblia, o uso de alegorias e sermões que o patriarca fazia na mesa, sempre citando o tempo e como deveriam ser submissos, aceitá-lo, não deixar-se queimar por nada além do necessário. E aqui temos um claro embate entre presente e passado, aquele representado pelo filho e este pelo pai.
Este é um livro que aceita diversas interpretações, porque mesmo com o seu tamanho é complexo. Existem nas entrelinhas fatos como por exemplo a repressão que as mulheres sofriam e ainda sofrem em ambientes patriarcais, porque Ana, irmã do narrador que mesmo sendo irmão, têm um relacionamento amoroso que contribui no seu afastamento daquele ambiente a princípio acolhedor, contudo também controlador.


Dom Casmurro

Resultado de imagem para dom casmurro
Tanto é comentado quanto não é lido. Dom Casmurro, obra clássica do realismo e de um dos melhores escritores brasileiros - se não o maior - Machados de Assis, é um livro narrado por Santiago, apelidado Bentinho, mas na vida adulta também apelidado de Dom Casmurro por sua reclusão, cara fechada e por um incidente num trem, seu cochilo quando um conhecido lia seu poema. Ele o escreve com o fim de atar as duas pontas da vida: seu presente e seu passado.
Todavia mais do que isso, esta é uma espécie de biografia escrita para provar que Capitu o traiu; a dona dos olhos e da personalidade mais interessante e o que mais me fez continuar a leitura, já que o narrador torna a história diversas vezes enfadonha, mesmo que a sua construção e divagação supere o lugar comum.
Sabe-se que um narrador em primeira pessoa é pouco confiável, mesmo analisando as simbologias do mar e das referências aos olhos de ressaca de Capitu e comparando-as ao significado do nome do suposto traidor, pode-se inferir que ali foram postas pelo narrador para a comprovação do que pretende. Logo seriam uma manipulação? Sim.
As referências a escritores clássicos ingleses, principalmente William Shakespeare e a brincadeira com o leitor é o que torna a leitura cativante, além de nos aproximar do narrador, por isso cuidado e boa leitura!






(Quase não dava pra fazer upload desse gif meu haha)



Lembrem-se, ainda devo os animes assistidos e concluídos nessas férias - e do ano, uma tradição que iniciei em janeiro. E ainda devo a exposição das minhas melhores leituras, tanto do ano passado (2017) quanto desse que finda (2018). Logo, logo voltarei!

Boas festas e boas leituras!





Comentários

Postagens mais visitadas