Viver insonamente
(Fotografia de Thalya Amancio, 2018)
Caminhando
pela casa vazia e escura, sem luz.
Ela
estava andando pela casa sonâmbula.
"Eu
me pergunto quando realmente relaxarei..." Murmurou pra si,
lembrando de monólogos como o de Hamlet: a única preocupação era
a existência, ali incrustada em todos os textos, livros, carne,
sangue, blood.
E
eis que uma sombra surgiu na sua frente. Ela se encarou ali, vendo um
de seus demônios.
"Nunca."
Então seu anúncio não vinha de um corvo.
"Não
foi uma pergunta, outro eu." Ela não se surpreendia com essas
visitas, afinal eram constantes de suas noites insones. Ela sempre
era acompanhada, observada, seguida por si mesma.
O
ser sorriu maliciosamente.
"Você
precisa pelo menos tentar, ser insignificante."
"Insignificante?
Você é uma criatura minha, saída de minha mente, minha entranhas."
Ela apontou, se aproximando e a tocando. "Agora retorne."
Em
um instante sua segunda sombra desapareceu. "Voltarei de sua
morada."
"Nunca
será o bastante."
O
quê? Não
aquela voz do seu passado. Não aquela memória de corpos, braços,
mãos se entrelaçando e gemendo em dor e prazer.
"Me
proteger de mim mesma." Segurou sua cabeça entre as mãos. O
peso do mundo, pesando em seus ombros, assim deve ter sentido Atlas.
O mundo era visto, enxergado e interpretado segundo sua memória, ali
estava a chave. Num fluxo rápido, ela caiu em sono profundo e
sonhou.
"Você
é estranha."
Ela
gargalhou ante a ideia que lhe surgiu. "Percebeu agora?"
Mas
ele não fez o mesmo. "É como se pra você doesse viver... Até
falar. Se entregar. Ser."
"Jorge..."
Sua voz saiu cortando, rasgando sua garganta. Antes de continuar com
alguma palavra dolorosa ou concluir a certeza dele, seus lábios se
abriram para receber os outros. Apenas sinta, mesmo que doa, moça,
parecia escapar da troca.
Ele
a penetrou e assim a dor acompanhada da ânsia, fome por mais a
mostrou que a vida era esse agridoce.
(Escrito por Thalya Amancio em outra madrugada insone)
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