A NÃO SAUDADE DA NORMALIDADE IMPREGNADA NESTA PÁTRIA NACIONAL
Amanheceu,
amanheceu nessa pátria,
nação,
projeto de país,
diverso, complexo,
cheio de dubiedade,
arbitrariedade.
Para uns é possível
observar o sol,
para os outros o
amanhecer é privilégio,
para uns há direito a palavra, defesa, ao erro,
para outros se aplicam a
sentença, a violência máxima do Estado com aval social.
Que democracia é essa?
Democracia abstrata, não efetiva, não plena.
Democracia pra quem,
onde?
Isso parece luxo,
hipérbole, eufemismo,
utopia para alguns
segmentos sociais e espaços geográficos.
Justiça por João Pedro,
Agatha e outras
crianças da periferia.
Justiça por cada
criança, jovem, sujeito alvejado, violentado por esse NecroEstado.
Respondam:
Essas mortes serão
punidas branquitude, acadêmicos,
congressistas, líderes
políticos, artistas,
senhores democratas,
republicanos e defensores da constituição?
Ou essas vidas serão
tratadas como estatísticas?
O Brasil, brasis que
esbraveja por liberdade,
liberdade algumas vezes
pintada e alimentada de, por ódio,
permanece na busca de silenciar,
censurar, calar.
Ora mais, essa negligência,
apagamento ou bala em seu povo,
não é inconsciente, é
plano político,
é extermínio e controle
de massa.
Lá vem a bala,
não é bala perdida,
não é bala perdida,
é bala achada,
com alvos definidos.
São tantas balas,
olhem,
a bala vem de baixo,
do alto, dos carros,
são muitas,
e sempre tem o único
alvo.
Não é bala para
mobilizar,
é para matar.
Olhem,
ela acertou o alvo,
mirou novamente mais um
alvo.
Há sangue,
sangue em casa,
na rua,
na escola,
nos uniformes
escolares.
Há dor, tristeza,
indignação no choro, nos gestos de mães e pais que sepultam seus filhos,
que temem pela vida de
seus outros filhos e também de outras crianças, jovens.
Nesse país só se aplica
segurança pública ostensiva, combativa,
é uma guerra,
é fuzil, é bala, é
morte,
os inimigos, alvos
estão marcados.
Você já se perguntou
segurança pública pra quem?
Intrigante não é?
Todo espaço essa bala
encontra seu alvo,
Não é política de
segurança pública,
é política de
extermínio.
A bala não é perdida,
o caos não é aleatório,
Santa ingenuidade.
Santa paciência para
essas notas de repúdio,
É tudo plano político,
estratégia de dominação.
Quantas vezes terei que
reforçar, gritar, falar?
Haja paciência.
Correção.
Porra de paciência
nenhuma.
É hora de radicalizar.
Historicamente são
tantas dívidas, danos causados a nós, aos nossos,
até a vontade de nos
indignar, manifestar, gritar,
tentam nos arrancar.
Exaustão.
Drummond, Brecht,
vós afirmo sem hesitar,
algo, soa-me
curiosamente,
algo parece estranho,
parece-me que algo
permanece adormecido,
Ou seria domesticado,
controlado, sedado, petrificado?
Onde ficou, onde estás?
Parece que no horizonte
estás perdido, há fúria,
o poder de
manifestação, reivindicação dessa gente,
que são tratados como
subalternos, não cidadãos, excluídos por papeis de leis, estatutos, garantias
constitucionais.
A República, a
economia, a constituição não são nossas.
Disponho, esforço a
observar,
usei do tempo para
reflexão, auto conhecimento.
Certas observações e
constatações são úteis no momento atual.
Observar, avaliar,
questionar são atividades que me intrigam,
anseio pelo Mundo de
Sofia, Alice,
mas vejo,
que estou mais em distopia moderna,
caótica e cercada de
civis e políticos com ideias tiranas e insanas.
Logo jogarão livros em
fogueira.
Em breve darão ordens
de perseguição e prisão de cientistas.
A arte e educação já estão sendo retaliadas.
A ciência negada.
Temor dessa nação seja
dominada por terra planistas, anti vacinas, anti intelectuais.
A respeito do tempo,
cabe uma observação.
Pareço perdida,
sem noção de tempo,
espaço, ora, ora Alice.
Como se até o tempo
criado pela humanidade e usado para criar rotinas, padrões,
corridas, atividades,
o tempo na modernidade
vem ganhando novas configurações.
Mosé nos avisou,
o tempo criado pela
humanidade,
utilizado para criar
rotina, atividades, tantas vezes econômica e organizacional,
foi desconfigurado
nessa crise atual.
Nessa tentativa de
pensar no tempo,
fiquei perdida,
vagando, entrando, mergulhando,
o pensamento, o
conhecimento me soam como mar, como ondas,
que puxam,
te leva, conduz para
novos lugares,
habitações, uma viagem.
Nessas viagens,
mergulhos,
algo se revela,
surge,
intensifica,
mostra-se relevante.
A saudade.
A saudade tem cheiro?
Tem sabor?
Qual sua utilidade?
Em oposição a saudade,
surge a não saudade.
A não saudade de
normalidades,
ações, discursos,
práticas inaceitáveis, absurdas recorrentes e normatizadas na sociedade
contemporânea.
Com os fins dessa
pandemia torna-se um ato político e bandeira o fim dessas normalidades,
não aceito essa
normalidade,
essa ordem vigente,
dominante.
E em meio a raiva,
fúria, indignação,
anseio pela esperança,
abraço-a, agarro-a,
quero guardá-la comigo.
Observa-a, ela parece
frágil, breve e alucinógena.
A esperança é uma droga
alucinógena não é Bukowski?
Estou com mais sintomas
de saudades senhores,
saudades de caminhar
pelas ruas,
das interações.
De observar a dinâmica
social,
olhar como essa
dinâmica só é possível pelo trabalho dos trabalhadores brasileiros.
E lá vem as indagações.
O questionar,
obviamente questiono,
afinal sou um ser que
existo e penso,
penso e me indigno com
esse país.
Oh pátria adoecedora,
desigual e violenta,
banhada com sangue,
dor.
Pátria que assassina e
sepulta seus filhos,
seus habitantes,
não os tratam como cidadãos,
mas indigentes,
arrancam a identidade,
retiram moradias, terra,
casa,
esperança, a vontade de
sonhar.
Negar-lhes o direito ao
conhecimento,
a saúde, a participação
democrática,
o acesso a cultura, a
ciência.
Até quando?
Encarcerá e matará seus
nativos?
Nesse projeto de
NecroEstado,
nessa política colonialista,
racista,
que amplificam as
desigualdades,
que ampliam os abismos,
separações entre a cidade, o campo e a periferia.
Que aplica nas ruas a
pena de morte aos seus filhos negros e pobres.
Que encarcera em massa
como forma de impossibilitar, assegurar direitos e oportunidades aos filhos.
Até quando?
Essa nação está podre,
difícil de ser habitada e amada.
Uma nação que noticia a
morte de crianças,
a nação que faz da
violência, extermínio de alguns grupos um projeto lucrativo e midiático,
não é digna de amor,
elogios e nacionalismo.
Não são números, não
são criminosos,
Não são números.
São vidas.
Eliane Brum está certa,
estamos doentes de
Brasil.
Após essa pandemia,
essas normalidades,
padrões, discursos e
práticas culturais rotineiras no país precisam serem
erradicadas imediatamente.
É urgente a derrubada
desse país para a construção de um
novo país.
Essa democracia liberal
não é útil há a nós, aos nossos, para nós.
Essa democracia só mata
a nós, os nossos,
Excluindo, ignorando
nossas demandas,
nossas vozes.
Uma nação que atira
contra crianças,
Agredi jornalistas,
ameaça ativistas,
persegue educadores,
é a expressão máxima do
fracasso, do autoritarismo.
É impossível viver,
amar esse país.
É só caos, medo e
retrocessos.
E não é que retroceder,
punir, exterminar são verbos políticos, comuns e estratégicos desse país com
respaldo social.
A solução não é a
produção de notas de repúdio,
mais papeis pra quê?
Só abstrações,
discurso ideológico,
esvaziado, sem
efetividade, impacto.
É hora do pragmatismo.
Agora, papeis são
inúteis,
E lá vem vocês com suas
palavras mortas,
palavras inúteis,
palavras desconexas,
sem sentido, sem
utilidade, sem efeito na realidade, pra quê?
Não entendem?
Não percebem?
Invés de escrever, vou
falar, expressar, gritar, verbalizar, enfatizar,
pois talvez assim vocês
compreendam: É preciso radicalizar.
Rogelânia Bezerra. Graduada em Letras pela Universidade Estadual do Ceará. Ama poesia, ciência, conhecimento e ciência.
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