Reflexões sobre a liberdade, a escrita e o futuro: leituras passadas
Olá, queridas leitoras e queridos leitores! Como estão?
Chegando o final do ano, começo a refletir e fazer um panorama de leituras, de projetos, planejamentos e de novas mudanças que preciso realizar. Adaptações no compartilhamento de minhas leituras, do meu conhecimento e do meu público. E agora, passo mais tempo lendo e realizando atividades da faculdade - para quem não sabe, curso Letras Português pela Universidade Estadual do Ceará (campus em Quixadá, uma cidade do Ceará) - e acabo procrastinando em resenhas e publicações. Já acontecia, não é? Natural nos ocuparmos com a vida pessoal e profissional.
E muitas reflexões surgiram depois de leituras realizadas. Escrevi algumas resenhas rapidamente para o meu perfil do Skoob (vocês podem encontrá-lo no próprio blog em uma das abas do lado esquerdo), tentando extrair os sentidos que posso ter das obras. Tenho a concepção de que ao escrever o que entendemos, interagimos e nos tornamos mais atentos a detalhes das leituras.
Abaixo, duas resenhas de um ensaio e de um romance muito conhecido. Quaisquer sugestão ou comentário, saibam que estou aberta a diálogo.
Duas leituras de outubro
Um Teto Todo Seu de Virginia Woolf
A escassez de mulheres na ficção
O grande questionamento, portanto, não é apenas se as mulheres publicaram obras e quais foram, mas perceber que existiu e existe uma lacuna na história da literatura de nomes femininos.
As mulheres boa parte da nossa história foram relegadas a cuidarem da família, dos filhos e do lar. Relegadas ao ambiente doméstico, restrito e vistas como incapazes para ocupar cargos diversos na sociedade.
Durante todo o ensaio, adaptado dos discursos proferidos - intitulado inicialmente "Mulheres e a Ficção" - nas faculdades Newnham College e Girton College (Universidade de Cambridge) em 1928, ambas frequentadas por mulheres, Virginia vai para além de apresentar e discorrer sobre autoras e as suas principais temáticas. Ela questiona e enfatiza depois de pesquisar e refletir, se a falta de oportunidades e de acesso a leitura etc, não teriam impedido que grandes escritoras colocassem suas ideias no papel. E ela conclui, usando várias referências e a sua própria experiência: sim, com toda certeza. Ela mesma foi impedida de entrar em uma biblioteca porque não fazia parte da Universidade!
Woolf escreve de maneira brilhante e fluída, mostrando como faltou durante muito tempo (e ainda falta) espaço, dinheiro e um teto todo das mulheres para exercer e desenvolver todas as suas capacidades intelectuais e criativas.
(Um Teto todo seu, Virginia Woolf, edição Tordesilhas).
Capitães da Areia de Jorge Amado
(Fotografia de Thalya Amancio, 2020)
Garotos abandonados = violência
Sabendo que Jorge Amado é um autor que iniciou sua carreira durante a década de 30 - falo da carreira de escritor, propriamente dito - apenas enxergaremos qual foi a sua contribuição na literatura brasileira ao analisarmos e lermos as obras dele (importante enfatizar). Interessante saber que ele teve seus livros atacados e destruídos, e este foi o caso de "Capitães de Areia", a obra a qual resenharei rapidamente.
A história se focará em um grupo de meninos abandonados e socialmente excluídos, que encontram saídas para a sobrevivência através de furtos, assaltos, estupros, brutalidade e violência. Os Capitães da Areia vivem no cais, perto do mar e são comandados por Pedro Bala, um garoto esperto que possui um talho no rosto, conseguido depois de uma briga que garantiu a sua liderança no grupo.
A narração é toda em terceira pessoa, mas veremos a perspectiva de várias personagens do grupo de meninos: tanto Pedro Bala, quanto o Sem-Pernas, o Volta Seca, o Pirulito, o Gato, o Professor, João Grande, Boa Vida entre outros, com uma única menina, Dora também fazendo parte. É portanto, uma narrativa que segue os moldes do romance coletivo, a qual o baiano, Jorge Amado era figura proeminente e famoso por usar a técnica de forma habilidosa, tal como realiza com a construção de períodos em que o narrador coloca a voz do povo menos favorecido e vulnerável, principalmente quando retrata a negligência do Estado e dos governos quanto aos cuidados básicos de saúde:
Embora com todas as ressalvas de ideias que são contraditórias, de seu próprio tempo e contexto, Capitães da Areia continua atual e muito relevante para pensar como os garotos, as pessoas e a população em geral brasileira é abandonada e, por isso, podem vir a encontrar saída em meios ilícitos, com o fim primordial da sobrevivência. Não é justificativa que se tornem criminosos para isto, porém, se não existirem outras maneiras de saírem da miséria e da fome, o que farão? É ludibriado aquele que acredita que a meritocracia existe no nosso país desigual.
E é um livro ainda mais relevante para pensarmos sobre o dito acima e sobre políticas públicas de combate ao desemprego, a fome, a insegurança, ao analfabetismo etc.
O final do livro é uma luz, mostrando que diversos caminhos foram escolhidos pelos meninos e, que agora, todos se encontraram. Todos agora possuem esperança porque descobriram ou criaram o sentido de suas existências. Alguns na igreja, na arte, na expressão, outros como líderes de greves e de lutas coletivas. E mesmo que um livro triste em grande medida, persevera a alegria e o amor imenso que Amado sentia pela Bahia.
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