Leituras admiráveis

Olá my dears, mein lieber, como estão?
Na postagem anterior, falei que haveria um novo quadro com leituras desafiadoras, mas decidi que seria injusto excluir os outros tipos de leituras, por isso vou estender esse quadro e ele abrangerá outros adjetivos sobre leitura. Então, hoje, como podem ver no título, tratarei de uma leitura admirável.
Let's go!


Fahrenheit 451




A obra de Bradbury descreve um governo totalitário, num futuro incerto mas próximo, que proíbe qualquer livro ou tipo de leitura, prevendo que o povo possa ficar instruído e se rebelar contra o status quo. Tudo é controlado e as pessoas só têm conhecimento dos fatos por aparelhos de TVs instaladas em suas casas ou em praças ao ar livre. O livro conta a história de Guy Montag, que no início tem prazer com sua profissão de bombeiro, cuja função nessa sociedade imune a incêndios é queimar livros e tudo que diga respeito à leitura. Quando Montag conhece Clarisse McClellan, uma menina de dezesseis anos que reflete sobre o mundo à sua volta e que o instiga a fazer o mesmo, ele percebe o quanto tem sido infeliz no seu relacionamento com a esposa, Mildred. Ele passa a se sentir incomodado com sua profissão e descontente com a autoridade e com os cidadãos. A partir daí, o protagonista tenta mudar a sociedade e encontrar sua felicidade.












Sobre o Autor





Ray Douglas Bradbury (Waukegan, 22 de agosto de 1920 — Los Angeles, 6 de junho de 2012 ) foi um escritor americano que atuou como romancista e contista primariamente de ficção-científica e fantasia.

Ele é mais conhecido por seu trabalho mais famoso, Fahrenheit 451, de 1953, uma das mais renomadas obras de ficção do século XX, uma das estórias consideradas precursoras do gênero de distopia/ficção especulativa. Outras de suas obras famosas incluem Crônicas Marcianas (1950) e The Illustrated Man (1951). Muitas de suas obras foram adaptadas ao longo de sua carreira, tanto para o cinema, quanto para a televisão e para a mídia de banda desenhada/quadrinhos.






Para quem gosta de literatura, Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, é um prato cheio. Ou seja está cheia de citações à literatura, ou a chamada metalinguagem; a literatura falando de si mesma.

A estória trata de uma sociedade onde ler é proibido e qualquer tipo de informação é contida. Uma sociedade onde as pessoas são alienadas, levadas a crer que a felicidade reside em assistir tv e possuir uma "família virtual", e por não possuírem acesso ao conhecimento, são submissas e influenciáveis a opinião dos outros. O que na obra, pode ser visto claramente nas mulheres, que vivem dopadas e sob o domínio de seus maridos. Resumindo: uma sociedade que procura conservar a "calmaria" e suprensão da "rebeldia", que no caso tira a liberdade de seus cidadãos. 

A sociedade de F451 temem o conhecimento e por esse motivo, os bombeiros não apagam mais o fogo -- e salvam pessoas -- e sim os acende. Como uma caça às bruxas podem ver.

E porque as pessoas vivem para as suas famílias virtuais ou televisas, isso as torna antissociais, mal conversam ou convivem com os outros, levam a vida como se fosse apenas ficar na frente de suas tevês e observar a vida dos outros e não viver.


"Você não é como os outros. Eu vi alguns; eu sei. Quando eu falo, você olha para mim. Ontem à noite, quando eu disse uma coisa sobre a lua, você olhou para a lua. Os outros nunca fariam isso. Os outros continuariam andando e me deixariam falando sozinha. Ou me ameaçariam. Ninguém tem mais tempo para ninguém. Você é um dos poucos que me toleram. É por isso que eu acho tão estranho você ser bombeiro. É que, de algum modo, não combina com você" - (p. 45).


E tal como a maioria das distopias, o protagonista sofre um choque de realidade e finalmente vê o que antes não via. No caso de Guy Montag, seu choque foi sua vizinha Clarisse McClellan, que abre seus olhos para a sociedade que vivia. A partir de sua primeira conversa com ela, Montag percebe o quanto é infeliz com seu emprego, sua vida de casado com Mildred e com o vazio das pessoas, que aceitam à tudo com um estranho comodismo. 

"Escuridão. Não estava feliz. Não estava feliz. Disse as palavras a si mesmo. Admitiu que este era o verdadeiro estado das coisas. Usava sua felicidade como uma máscara e a garota fugira com ela pelo gramado e não havia como ir bater à sua porta para pedi-la de volta" - (p. 32).


"Como uma pessoa fica tão vazia?, perguntou a si mesmo. Quem esvazia a gente?" - (p.68).


Depois são poucos passos para tornar Guy um leitor, e fazê-lo reagir contra aquela sociedade errada. 

"- Me deixe em paz - disse Mildred. - Eu não fiz nada.
- Deixar você em paz! Tudo bem, mas como eu posso ficar em paz? Não precisamos que nos deixem em paz. Precisamos realmente ser incomodados de vez em quando. Quanto tempo faz que você não é realmente incomodada? Por alguma coisa importante, por alguma coisa real?" - (p.76).

E assim se inicia uma revolução... 


"Ninguém mais presta atenção. Não posso falar com as paredes, porque elas estão gritando para mim. Não posso falar com a minha mulher; ela escuta as paredes. Eu só quero alguém para ouvir o que tenho a dizer. E talvez, se eu falar por tempo suficiente, minhas palavras façam sentido" - (p.109).


O mais impressionante da obra é um dos bombeiros, o capitão Beatty para ser mais exata. Uma das personagens mais emblemáticas da estória, se não a mais importante, pois pela maneira que fala, entende muito de literatura e mesmo assim queima livros. 



"Se não quiser um homem politicamente infeliz, não lhe dê os dois lados de uma questão para resolver; dê-lhe apenas um. Melhor ainda, não lhe dê nenhum. Deixe que ele se esqueça de que há uma coisa como a guerra (...). Encha as pessoas com dados incombustíveis, entupa-as tanto com os "fatos" que elas se sintam empanzinadas, mas absolutamente "brilhantes" quanto a informações. Assim, elas imaginarão que estão pensando, terão uma sensação de movimento sem sair do lugar. E ficarão felizes, porque fatos dessa ordem não mudam. Não as coloque em terreno movediço, como filosofia ou sociologia, com que comparar suas experiências. Aí reside a melancolia. Todo homem capaz de desmontar um telão de tevê e montá-lo novamente, e a maioria consegue, hoje em dia está mais feliz do que qualquer homem que tenta usar a régua de cálculo, medir e comparar o universo, que simplesmente não será medido ou comparado sem que o homem se sinta bestial e solitário. Eu sei porque já tentei. Para o inferno com isso! Portanto, que venham seus clubes e festas, seus acrobatas e mágicos, seus heróis, carros a jato, motogiroplanos, seu sexo e heroína, tudo o que tenha a ver com o reflexo condicionado. Se a peça for ruim, se o filme não disser nada, estimulem-me com o temerim, com muito barulho. Pensarei que estou reagindo à peça, quando se trata apenas de uma reação tátil à vibração. Mas não me importo. Tudo o que peço é um passatempo sólido" - (p.86-7).




E então meus queridos e queridas, o que acham da indicação? Será que deu vontade de ler? Recomendo que se jogue nessa leitura admirável, porque fará pensar que esse futuro distópico afinal não é muito diferente do nosso presente atual. 



Obs: quero deixar a indicação de uma canção que ilustra bem o que comentei. Destaque para o trecho: "a gente queima todo dia mil bibliotecas de Alexandria."



Obs 2: existe a adaptação de Fahrenheit 451 dirigida por  François Truffaut em 1966. Fica anotado que a fotografia do filme é incrível! Assistam sem expectativas, pois é uma adpatação e não uma cópia do livro. E é isso que o próprio nome já diz: a.d.a.p.t.a.ç.ã.o.



"Eu me agarrei firme ao mundo algum dia. Já pus um dedo nele; é um começo" - (p.197).


Por hoje é só, até mais!






Comentários

Postagens mais visitadas