A Inevitabilidade da morte - somos como Ivan Ilitch?

 Esta obra mostra a história de um burocrata medíocre, Ivan Ilitch, um juiz respeitado que depois de conseguir uma oferta para ser juiz em uma outra cidade, compra um apartamento lá, para ele, sua mulher, sua filha e seu filho morarem. Ao ir para o apartamento, antes de todos, para decorá-lo, ele cai e se machuca na região do rim, dando início à uma doença.




“Chorou como uma criança. Chorou por causa do seu enorme enfraquecimento, e terrível abandono em que a família o deixava e pela crueldade e ausência de Deus.” 


O que percebemos com a atual exigência individualista é que muitas pessoas têm se afastado do filosofar, e ignoram, indiferentes, a busca pelo reconhecimento de si e do mundo. Com as horas de trabalho degastantes e mecânicas, esquecemos das nossas necessidades como humanos. Essa mecanização das pessoas, levou muitos a seguir ideais irracionais -- não somente por esse motivo, lógico, como também por crises e a esperança em discursos idealistas -- tal como o Nazismo ou regimes ditatoriais, que se fossem analisados profundamente -- humanamente -- se perceberia lacunas e falácias. E na leitura de A Morte de Ivan Ilitch vemos claramente a falta de pensar, que teve como consequência o temor de refletir sobre seu próprio futuro, sua morte, o que ela significaria para o meio social.

“Não existirei mais e então o que virá? Não haverá nada. Onde estarei quando não existir mais? Será isso morrer? Não. eu não vou aceitar isso!' Levantou-se e tentou acender a vela com as mãos trêmulas. Deixou cair a vela e castiçal no chão e atirou-se outra vez à cama. 'De que adianta? Que diferença faz?', perguntava-se fixando, com olhos arregalados, a escuridão. 'Morte. Sim, morte. E nenhum deles entende, ou quer entender. E não sentem pena nenhuma de mim. Estão todos se divertindo.” 

Ivan Ilitch é um juiz, chefe de família, figura conhecida socialmente, que adoece repentinamente e como diz o título da obra, morre. Mas Tolstoi não se focou em simples acontecimentos, ou fatos, porque afinal, a importância do romance está nas reflexões do protagonista, que percebe, enfim, que não fez nada de verdadeiramente importante na sua vida; seguiu as normas da sociedade, como um comum, como uma autômato, porém não deixou um legado para a humanidade; um ato verdadeiro e singular. Ele foi apenas mais um do rebanho que seguia ordens sem nem perguntar o porquê delas. 

“O próprio fato da morte de um amigo despertou, como sempre, em todos os que souberam da noticia, um sentimento de alegria: Não fui eu; foi ele que morreu.” 

E é sobre isso -- e outras coisas -- que escrevi no facebook, a fim de comentar sobre o dia 02 de novembro, o dia de finados, que relembra a muitos o respeito à morte e aos mortos. E  acabei fazendo referências e decidindo escrever aqui no blog, adicionando novas ideias e deixando um convite à leitura do clássico russo; um convite para embarcar nessa leitura admirável, que aliás poderia ter caído no quadro Leituras Admiráveis, entretanto este post é especial, e deve ter algo diferenciado. 




A Empatia: devemos lembrar da morte da humanidade


Muitas pessoas que conheço falam a mesma máxima: "a única certeza da vida é a morte." Acho que é a primeira forma de perceber o nosso enorme medo da verdade; da verdade da grande hora que chegará à todos, ricos, pobre, feios, bonitos... Todos somos iguais.


No dia de hoje, não deveríamos apenas lembrar dos que já morreram -- e daqueles mais próximos de nós -- e sim também dos que ainda morrem e morrerão por causa de guerras religiosas, intolerantes e preconceituosas; mesmo estando distantes e nem mesmo conhecendo seu percurso e sua cultura, afinal não deixam de ser humanos. 



“Diante da vastidão do tempo e da imensidão do universo, é um imenso prazer para mim dividir um planeta e uma época com você.”Carl Sagan


É uma tristeza saber que existem pessoas que não tem nem um lar para morar, nem mesmo uma família, ou um parente para confortá-lo, porque tiraram sua dignidade, sua felicidade, seu passado e até seu futuro; apagaram sua história. E o pior, esse "assalto" não é de hoje, parece está enraizado na cultura humana, e se repete como num ciclo; uma repetição que parece condizer com a teoria de Nietzsche de que tudo irá se repetir: o eterno retorno. 


                           O maior dos pesos – E se um dia, ou uma noite, um demônio lhe aparecesse furtivamente em sua mais desolada solidão e dissesse: ‘Esta vida, como você a está vivendo e já viveu, você terá de viver mais uma vez e por incontáveis vezes; e nada haverá de novo nela, mas cada dor e cada prazer e cada suspiro e pensamento, e tudo o que é inefavelmente grande e pequeno em sua vida, terão de lhe suceder novamente, tudo na mesma sequência e ordem  – e assim também essa aranha e esse luar entre as árvores, e também esse instante e eu mesmo. A perene ampulheta do existir será sempre virada novamente – e você com ela, partícula de poeira!’.  – Você não se prostraria e rangeria os dentes e amaldiçoaria o demônio que assim falou? Ou você já experimentou um instante imenso, no qual lhe responderia: “Você é um deus e jamais ouvi coisa tão divina!”. Se esse pensamento tomasse conta de você, tal como você é, ele o transformaria e o esmagaria talvez; a questão em tudo e em cada coisa, “Você quer isso mais uma vez e por incontáveis vezes?‟, pesaria sobre os seus atos como o maior dos pesos! Ou o quanto você teria de estar bem consigo mesmo e com a vida, para não desejar nada além dessa última, eterna confirmação e chancela” – Friedrich Nietzsche, Gaia Ciência, 341  


Quanto mais alguns tirarão vidas, só porque acham ter direito sobre elas? Quanto mais fingiremos não ver ou negar a existência da morte? Seremos como Ivan Ilitch -- personagem de um romance de Tolstoi -- que só percebeu a verdade quando estava no leito de morte?



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E então, queridos, todos tememos a morte porque esse acontecimento corta nossas relações com o mundo real e apaga nossas memórias e parece ser indiferente para outros; o mundo continua e tememos ser esquecidos. Descobrimos há pouco que o mundo não gira a nosso redor, tudo nele é indiferente. Não leve isso para o lado pessimista, é apenas o lado realista. 

Espero que o que escrevei faça pensar sobre a existência que vivemos. Será que somos como Ivan Ilitch? Ou somos diferentes? Reflita antes que seja tarde.





                         Bônus Musical

Gary Jules - Mad World 

Uma canção, conhecida por causa do filme de ficção científica, de drama e fantasia,  Donnie Darko -- um dia comentarei -- que passa melancolia e nos faz refletir sobre as repetições de erros e velhas atitudes das pessoas; um mundo maluco, e que para mim dá ênfase na assustadora ideia de Nietzsche. 







Leituras recomendadas


Referências: http://www.eternoretorno.com/eterno-retorno-nietzsche/

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