Resenha de "Fazendo Ana Paz" de Lygia Bojunga

Olá!
Vou ser o mais formal, dentro do possível, neste post. Irei indicar uma obra de fácil compreensão e até didática. Como o título do post não me deixa negar: Fazendo Ana Paz. Um livro de Lygia Bojunga, que tenta compartilhar para os leigos - principalmente o público infanto-juvenil - sobre o processo criativo, mais especificamente no âmbito literário.

Então, espero que apreciem.
Obs: Esta foi uma resenha de uma das minhas disciplinas da faculdade, e decidi trazê-la, porque acho que a leitura da presente obra e pesquisas posteriores podem ser essenciais para amantes da literatura.
Boas leituras!

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NUNES, Lygia Bojunga. Fazendo Ana Paz. Editora Agir, 1991.


A Metalinguagem em Fazendo Ana Paz

Conhecida tanto nacionalmente quanto internacionalmente por seus livros infanto-juvenis, A bolsa amarela, Os colegas, Nós três, entre tantos outros, Lygia Bojunga Nunes — ou somente Lygia Bojunga — nos apresenta sua faceta artística, que como no exemplo de demais escritores, Gabriel Garcia Márquez, Ítalo Calvino, Stephen King, Thomas Mann etc, discutem sobre o processo criativo. No entanto, em Fazendo Ana Paz, sua conversa é informal, contada de forma lúdica, acolhedora e principalmente, preocupada em revelar o mundo de perguntas que reviram na mente dos escritores, ao público que desconhece essa experiência.
Em suas obras, sua vida parece se fundir em diversos aspectos com a vida de suas personagens. Ana Paz, a protagonista de Fazendo Ana Paz, tal como Lygia, nasceu no Rio Grande do Sul e se mudou quando na juventude para o Rio de Janeiro. Essa proximidade e conexão talvez impliquem na razão de não conseguir dar um desfecho para a personagem.
Além disso não houve planejamento, e o inacabamento das personagens as torna de certa forma mais humanas, citando Nietzche, "humano, demasiado humano". Cada personagem surgia por vontade própria, embora no decorrer mostrassem possuir alguma conexão com a estória. Ana Paz chega para a autora e se apresenta como uma garotinha de oito anos de idade. E num frenesi revela muitos fatos sobre si mesma, mas "desaparece", o que frusta Bojunga, que gostaria de dá-la voz e ouví-la. Entretanto esse desaparecimento de inspiração não dura muito tempo: "E daí que depois de mais duas semanas no branco, eu senti a urgência de fazer uma moça. [...]." página 16. E esse sentimento a faz dar vida a outra personagem, que a primeira vista não possui conexão com a garotinha sumida. Porém no romper de mais uma criação, uma velhinha solitária, Lygia percebe a relação temporal entre essas três personalidades diferentes: ambas são Ana Paz. A Ana Paz-velha é o presente das outras, Ana Paz-criança e Ana Paz-moça.
A Ana Paz-Velha decide voltar à sua cidade natal no Rio Grande do Sul, para rememorar a infância e como para se eximir de haver esquecido da promessa feita ao pai: "promete que tu nunca vais te esquecer da carranca [...]." página 14. A carranca é o símbolo da união dela com seu pai, já que muitas de suas conversas eram sobre essa figura mítica.
Assim tecendo inúmeras personalidades que também irrompem sem o seu controle, Lygia demonstra que o escritor não controla suas criações; numa relação de Victor Frankenstein e sua criatura. E daí pode-se remeter às teorias freudianas sobre o inconsciente e o consciente. Como vê-se, uma proposição pode levar a outra, tal como: nossas vidas seriam fragmentos do passado e presente? O livro permite abrir discussões sobre o mundo ficcional e o mundo real, afinal trabalha com isso diretamente, tanto que por vezes a linha entre esses dois mundos se torna tênue e quase convergente.
Fazendo Ana Paz é uma composição, como todas as produções de Lygia Bojunga, acessível e apreciada por todos os públicos, sejam crianças ou sejam adultos. E a razão disso é que traz um universo paralelo onde nossos anseios e sonhos são postos em voga. Mesmo que o escritor seja quem os cria e modula, na verdade esse universo se tece através da empreitada do leitor e escritor — e quem sabe até das personagens — da mesma forma que escreveu João Cabral de Melo Neto em Tecendo a manhã: "um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. [...] " Parodiando: um escritor sozinho não tece uma obra: ele precisará de leitores.

                         Thalya Amancio 
Aluna do 2º semestre de Letras/Português em campus FECLESC - UECE
                         2017






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