Politicamente, agosto começa com o Brasil à beira do caos - Blog ...



A  NÃO SAUDADE DA NORMALIDADE IMPREGNADA NESTA PÁTRIA NACIONAL

Amanheceu,
amanheceu nessa pátria, nação,
projeto de país,
diverso, complexo,
cheio de dubiedade,
arbitrariedade.

Para uns é possível observar o sol,
para os outros o amanhecer é privilégio,
para uns há  direito a palavra, defesa, ao erro,
para outros se aplicam a sentença, a violência máxima do Estado com aval social.

Que democracia é essa?
Democracia abstrata, não efetiva, não plena.
Democracia pra quem, onde?
Isso parece luxo, hipérbole, eufemismo,
utopia para alguns segmentos sociais e espaços geográficos.

Justiça por João Pedro,
Agatha e outras crianças da periferia.
Justiça por cada criança, jovem, sujeito alvejado, violentado por esse NecroEstado.
Respondam:
Essas mortes serão punidas branquitude, acadêmicos,
congressistas, líderes políticos, artistas,
senhores democratas, republicanos e defensores da constituição?
Ou essas vidas serão tratadas como estatísticas?

O Brasil, brasis que esbraveja por liberdade,
liberdade algumas vezes pintada e alimentada de, por ódio,
permanece na busca de silenciar, censurar, calar.
Ora mais, essa negligência, apagamento ou bala em seu povo,
não é inconsciente, é plano político,
é extermínio e controle de massa.

Lá vem a bala,
não é bala perdida,
não é bala perdida,
é bala achada,
com alvos definidos.
São tantas balas,
olhem,
a bala vem de baixo,
do alto, dos carros,
são muitas,
e sempre tem o único alvo.

Não é bala para mobilizar,
é para matar.
Olhem,
ela acertou o alvo,
mirou novamente mais um alvo.

Há sangue,
sangue em casa,
na rua,
na escola,
nos uniformes escolares.
Há dor, tristeza, indignação no choro, nos gestos de mães e pais que sepultam seus filhos,
que temem pela vida de seus outros filhos e também de outras crianças, jovens.
Nesse país só se aplica segurança pública ostensiva, combativa,
é uma guerra,
é fuzil, é bala, é morte,
os inimigos, alvos estão marcados.
Você já se perguntou segurança pública pra quem?
Intrigante não é?

Todo espaço essa bala encontra seu alvo,
Não é política de segurança pública,
é política de extermínio.

A bala não é perdida,
o caos não é aleatório,
Santa ingenuidade.
Santa paciência para essas notas de repúdio,

É tudo plano político, estratégia de dominação.
Quantas vezes terei que reforçar, gritar, falar?
Haja paciência.
Correção.
Porra de paciência nenhuma.
É hora de radicalizar.

Historicamente são tantas dívidas, danos causados a nós, aos nossos,
até a vontade de nos indignar, manifestar, gritar,
tentam nos arrancar.
Exaustão.

Drummond, Brecht,
vós afirmo sem hesitar,
algo, soa-me curiosamente,
algo parece estranho,
parece-me que algo permanece adormecido,
Ou seria domesticado, controlado, sedado, petrificado?

Onde ficou, onde estás?
Parece que no horizonte estás perdido, há fúria,
o poder de manifestação, reivindicação dessa gente,
que são tratados como subalternos, não cidadãos, excluídos por papeis de leis, estatutos, garantias constitucionais.
A República, a economia, a constituição não são nossas.

Disponho, esforço a observar,
usei do tempo para reflexão, auto conhecimento.
Certas observações e constatações são úteis no momento atual.
Observar, avaliar, questionar são atividades que me intrigam,
anseio pelo Mundo de Sofia, Alice,
 mas vejo,
 que estou mais em distopia moderna,
caótica e cercada de civis e políticos com ideias tiranas e insanas.
Logo jogarão livros em fogueira.
Em breve darão ordens de perseguição e prisão de cientistas.
A arte e educação já estão sendo retaliadas.
A ciência negada.
Temor dessa nação seja dominada por terra planistas, anti vacinas, anti intelectuais.

A respeito do tempo,
cabe uma observação.
Pareço perdida,
sem noção de tempo, espaço, ora, ora Alice.
Como se até o tempo criado pela humanidade e usado para criar rotinas, padrões,
corridas, atividades,
o tempo na modernidade vem ganhando novas configurações.
Mosé nos avisou,
o tempo criado pela humanidade,
utilizado para criar rotina, atividades, tantas vezes econômica e organizacional,
foi desconfigurado nessa crise atual.

Nessa tentativa de pensar no tempo,
fiquei perdida, vagando, entrando, mergulhando,
o pensamento, o conhecimento me soam como mar, como ondas,
que puxam,
te leva, conduz para novos lugares,
habitações, uma viagem.

Nessas viagens, mergulhos,
algo se revela,
surge,
intensifica,
mostra-se relevante.
A saudade.
A saudade tem cheiro?
Tem sabor?
Qual sua utilidade?

Em oposição a saudade, surge a não saudade.
A não saudade de normalidades,
ações, discursos, práticas inaceitáveis, absurdas recorrentes e normatizadas na sociedade contemporânea.
Com os fins dessa pandemia torna-se um ato político e bandeira o fim dessas normalidades,
não aceito essa normalidade,
essa ordem vigente, dominante.

E em meio a raiva, fúria, indignação,
anseio pela esperança,
abraço-a, agarro-a, quero guardá-la comigo.
Observa-a, ela parece frágil, breve e alucinógena.
A esperança é uma droga alucinógena não é Bukowski?

Estou com mais sintomas de saudades senhores,
saudades de caminhar pelas ruas,
das interações.
De observar a dinâmica social,
olhar como essa dinâmica só é possível pelo trabalho dos trabalhadores brasileiros.
E lá vem as indagações.
O questionar, obviamente questiono,
afinal sou um ser que existo e penso,
penso e me indigno com esse país.

Oh pátria adoecedora, desigual e violenta,
banhada com sangue, dor.
Pátria que assassina e sepulta seus filhos,
seus habitantes,
 não os tratam como cidadãos,
mas indigentes,
arrancam a identidade,
retiram moradias, terra, casa,
esperança, a vontade de sonhar.
Negar-lhes o direito ao conhecimento,
a saúde, a participação democrática,
o acesso a cultura, a ciência.

Até quando?
Encarcerá e matará seus nativos?
Nesse projeto de NecroEstado,
nessa política colonialista,
racista,
que amplificam as desigualdades,
que ampliam os abismos, separações entre a cidade, o campo e a periferia.
Que aplica nas ruas a pena de morte aos seus filhos negros e pobres.
Que encarcera em massa como forma de impossibilitar, assegurar direitos e oportunidades aos filhos.
Até quando?

Essa nação está podre, difícil de ser habitada e amada.
Uma nação que noticia a morte de crianças,
a nação que faz da violência, extermínio de alguns grupos um projeto lucrativo e midiático,
não é digna de amor, elogios e nacionalismo.

Não são números, não são criminosos,
Não são números.
São vidas.

Eliane Brum está certa,
estamos doentes de Brasil.
Após essa pandemia,
essas normalidades,
padrões, discursos e práticas culturais rotineiras no país precisam serem erradicadas imediatamente.
É urgente a derrubada desse país para a construção de um novo país.

Essa democracia liberal não é útil há a nós, aos nossos, para nós.
Essa democracia só mata a nós, os nossos,
Excluindo, ignorando nossas demandas,
 nossas vozes.

Uma nação que atira contra crianças,
Agredi jornalistas,
ameaça ativistas, persegue educadores,
é a expressão máxima do fracasso, do autoritarismo.
É impossível viver, amar esse país.
É só caos, medo e retrocessos.
E não é que retroceder, punir, exterminar são verbos políticos, comuns e estratégicos desse país com respaldo social.
A solução não é a produção de notas de repúdio,
mais papeis pra quê?
Só abstrações,
 discurso ideológico,
esvaziado, sem efetividade, impacto.

É hora do pragmatismo.
Agora, papeis são inúteis,
E lá vem vocês com suas palavras mortas,
palavras inúteis,
palavras desconexas,
sem sentido, sem utilidade, sem efeito na realidade, pra quê?
Não entendem?
Não percebem?
Invés de escrever, vou falar, expressar, gritar, verbalizar, enfatizar,
pois talvez assim vocês compreendam: É preciso radicalizar.

Rogelânia Bezerra. Graduada em Letras pela Universidade Estadual do Ceará. Ama poesia, ciência, conhecimento e ciência.

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