Leituras de 2020: clássicos e contemporâneos, de Carmilla a Graciliano

Olá, gente! Olhando posts antigos, relembrei que eu costumava falar muito: "olá my dears, mein lieber" e isso porque eu buscava aprender outras línguas (ainda estou nesse processo). E bem, não irei retornar a esse hábito, a essas saudações, mas adoraria manter o contato com vocês, ou melhor, a intimidade e a proximidade de quem ainda se disponibiliza a ler blogs hoje em dia. Muito obrigada, sério. Se você saiu das redes sociais e está aqui, muito obrigada. Ou se ao menos tirou um tempo, se disponibilizou para ler o blog, muito obrigada.

Eu li há uma semana um livro interessante sobre o funcionamento das redes sociais, 10 argumentos para você deletar agora suas redes sociais de Jaron Lanier, e trarei depois um post para conversar sobre os vícios em redes sociais e de como, na minha vivência pessoal, me sinto sugada pelos feeds, status, stories e postagens nesses meios. É como se boa parte dos meus dias sumissem simplesmente por estar ali, olhando notícias e novos posts. Parece até que não tem fim, afinal sempre surgem novas notificações. É exaustivo, não acham? Faço essa digressão para enfatizar o quanto tem sido difícil deixar os feeds e as redes de lado. Por isso, muito obrigada. Fico muito feliz que o blog tenha te motivado e quem sabe, incitado a ler mais. 

E para quem chegou há pouco: sejam bem-vindas, bem-vindos e bem-vindes também, claro. Tudo bem?

Este blog têm nove anos de estrada e de caminho, de lá para cá muita coisa mudou - projetos de vida, postagens, formação profissional etc -, porém mantenho tudo funcionando, atualizado e agora com mais autoras e autores de posts - desde o ano passado - o que é uma alegria. Essa atualização e participação de mais pessoas apresenta e objetiva novas abordagens, novas experiências e novas perspectivas. A diversidade está amadurecendo e se desenvolvendo nesse espaço. Conseguem enxergar? Se não, deem uma olhada, temos muitos conteúdos e análises interessantes. 

Contudo... Estão curiosos para saber o que escreverei?

Neste post eu decidi deixar algumas resenhas que realizei no Skoob, a fim de registrar minhas leituras e deixá-los curiosas e curiosos para ler. Ou ao menos para procurar saber mais.

Vamos lá?


Resenha/apresentação de leituras passadas


Carmilla (1872) 


(Imagem da internet, 2021)


Primeira história escrita de vampiros 



Essa é a primeira história, ou melhor, novela literária sobre vampiros (claro que lendas já existiam e se espalhavam oralmente no folclore europeu) e o mais interessante é que temos aqui uma vampira. Sim, pasmem, muito antes do clássico "Drácula" dominar o mundo, Carmilla foi inspiração para outras obras, inclusive para a narrativa do citado vampiro.

Outro fato que chama a atenção: a narradora é mulher. Embora seja um autor irlandês que tenha escrito, ter colocado uma mulher como foco, mesmo que com alguns estereótipos e problemas, foi uma técnica inovadora ou no mínimo diferente para sua época, 1872.

E para além da importância de pioneirismo e "inspiração", Carmilla então escrita vinte e cinco anos antes de Drácula de Bram Stocker (1897) é até hoje adaptada e referência para a TV e para outros livros de terror com mesma temática.



Confissões do Crematório (2016)


(Imagem da internet, 2021)



A morte tratada de forma familiar


A autora Caitlin Doughty consegue abordar de forma muito habilidosa o tal fim tabu e temido por todos: a morte. Toda a sua experiência estudando e em um crematório a ajudou a encarar a morte de modo mais natural e, principalmente a conhecer a si mesma melhor. E segundo Caitlin entender que é natural morrer, ajudaria a compreender os nossos receios, traumas, obstáculos para viver uma vida plena, no aqui e agora. Ajudaria a compreender a nossa própria humanidade e tudo que nos move ou nos moveu.


O filósofo Emil Cioran disse que o suicídio é realmente o único direito que uma pessoa tem. A vida pode se tornar insuportável em todos os aspectos, e "esse mundo pode tirar tudo de nós [...] mas ninguém tem o poder de nos impedir de acabar com a própria vida". Talvez não seja surpreendente, mas Cioran, um homem "obcecado com o pior", morreu insone e recluso em Paris.


Unindo muitas referências sobre o assunto, sejam rituais de tribos, enxergando nossos próprios atos ritualizados no cotidiano ou filósofos, como no trecho acima, a autora escreve um diário, confessando suas preocupações, seu contato com corpos e suas lembranças desde a infância mais remota. Ela decide então dá um grito contra o silêncio e os disfarces que as pessoas criam para não discutirem ou não fazerem menção ao tema. Contudo, como bem enfatiza, a morte está ali presente em cada momento de nossas vidas.

O grito de Doughty também surge nas redes sociais, porque a agente funerária possui um site e um canal do youtube responsáveis pela difusão dessa ideia de que falar sobre a morte é necessário e deveria ser normal.



Para Amar Graciliano: como descobrir e apreciar os aspectos mais inovadores de sua obra


(Imagem da internet, 2021)


Aspectos inovadores e modernistas nas obras de Graciliano Ramos


Repleto de ensaios que demonstram as particularidades e inovações em todas as obras do autor alagoano recluso e que se afirmava como um quase Fabiano, personagem de sua obra potente "Vidas Secas" (1938): Graciliano Ramos.

Ivan Marques tece comentários e análises profundas e embasadas sobre todas as obras de Ramos. Assim, se torna uma ótima introdução para quem leu e não entendeu a relevância das obras do escritor, ou ainda, quem deseja lê-lo. E caso deteste spoilers, recomendo ler as análises só depois das leituras das obras.

Dividido em 12 capítulos: "1.O estilo é o homem", "2.Biografia e carreira literária", "3.Visão geral da obra: ficção e confissão", "4.Metalinguagem: o livro dentro do livro", "5.Dois capítulos perdidos': o narrador não confiável", "6.Vidas secas: 'romance desmontável'?", "7.Graciliano Ramos e João Cabral de Melo Neto", "8.Monólogo interior em São Bernardo e Angústia", "9.Fracasso e decadência: o lugar do intelectual", "10.Violência e ressentimento", "11.A representação da mulher" e "12. Realismo Crítico", o estudioso constrói um livro simples, com linguagem acessível e de fácil compreensão para a leitora ou leitor que deseja explorar e compreender melhor a profundidade de conflitos sociais, econômicos, políticos, psicológicos e existenciais presentes nas obras de Graciliano.

Essa visão amarga o acompanhou desde cedo. Já em uma crônica de 1915, o jovem Graciliano escreveu: 'Em escala descendente, a começar no Catete, onde pontifica o chefe assu, e a terminar no último lugarejo do sertão, em um caudilho, mirim, isto é um país a regurgitar de mandões de todos os matizes e feitios'.(página 27)



Por hoje é só, até mais!


Postagens relacionadas:


Análise de Angústia (1936): https://souhumanito.blogspot.com/2020/09/a-angustia-da-existencia-angustia-de.html

Diários de leitura: https://thalyalee.blogspot.com/2020/02/ocupacoes-leituras-atuais.html

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