Experienciando a arte e a literatura: sentir, se entregar a catarse


(Fotografia de Thalya Amancio, 2021) 

Há muito tempo eu venho pensando em escrever sobre as sensações e as possibilidades de vida que a literatura pode trazer e suscitar. Mas eu não queria simplesmente escrever listas. Eu gostaria de mais do que tudo escrever sobre a minha experiência pessoal e individual, a qual profundamente chegará até vocês. Já falei e escrevi muito sobre o quanto a leitura e a escrita são comunicações. Como sempre me lembro e enfatizo comigo mesma e em outra redes sociais, Carl Sagan, minha inspiração de vida, disse na sua famosa série (indico) "Cosmos": livros são magia.



E ao devanear segurando esse objeto, ou ainda, ao começar a ler um ebook, eu começo a refletir sobre o trabalho, os dedos e as mãos da pessoa enquanto seguravam o lápis, enquanto digitavam... E não só sobre isso. Ao escrever agora, começo a me aprofundar: imagino os sons, o cotidiano, sua família, suas histórias e começo a sentir como se uma voz ressoasse por meus ouvidos lendo cada palavra, me acalentando, tornando-se eu mesma. É uma conexão transcendental, uma comunicação que excede espaços. Aí está a magia, a quebra de espaços, uma viagem no tempo, através daquelas páginas com palavras que formam frases e textos coesos, coerentes. Para além dessas organizações sintáticas, semânticas e pragmáticas, há vida nos abduzindo para dentro de si. Quando penso assim, me pergunto: para que drogas? Minha imaginação e meus livros me levam mais longe. 

Lembro que quando criança, eu adorava fingir que estava nos desenhos e histórias que eu assistia, pulando, correndo, brincando na chuva milagrosa do sertão do Ceará. Quando fui na biblioteca com as colegas e os colegas da escola, para pegar livros, escolhi o livro Nós Três de Lygia Bojunga. Não imaginava que entraria em uma história com uma garotinha sonhadora como eu. Eu comecei a minha longa jornada, vivendo outras vidas, como também me colocando no lugar delas. Claro que não tenho essa sensação somente com os livros, porém eu desenvolvi e amadureci minha empatia e minha inteligência emocional ao ler. 

Aliás, essa sensação e o ímpeto para finalmente escrever surgiram ao assistir o primeiro episódio de um anime promissor e belíssimo: To Your Eternity ou Fumetsu no Anata e (2021). O insight causou uma comoção na minha cabeça e eu precisava escrever. No entanto, por que escrever sobre a empatia depois de assistir um anime, uma animação? Se engana quem acha que animações são meramente para divertimento ou entretenimento. Essa em especial toca com profundidade na capacidade de compreender completamente o Outro. 

(Print de um vídeo no Youtube: Fumetsu no Anata e )


São sentimentos que tenho também ao escrever. Estava ainda ontem relendo o romance que estou escrevendo e chorei pela vida das personagens, me colocando tanto nas suas vozes, como se as estivesse ouvindo, sentando-se com elas e as afagando enquanto desabavam em choro compulsivo. E é por essa entrega e por essa catarse (a capacidade de colocar para fora o que estamos reprimindo ou o que está nos magoando) que continuo elaborando, imergindo em milhares de perspectivas, milhares de formas de enxergar e viver a existência. A arte salva. A literatura salva. O amadurecimento de nossas emoções e de nossa razão salvam. 

Salvam? Sim, a arte, a literatura e a escrita salvam da inutilidade, da violência, da brutalidade, do poder a todo custo e da negação da importância de cada vida, seja humana ou não. Necessitamos de equilíbrio. O legado de Paulo Freire e outros tantos estudiosos e estudiosas estão por aí para nos lembrar que o ódio e a cegueira sem conhecimento não levam a nada. Precisamos conhecer, ler, nos permitir ir além das aparências ou dos discursos sem ações. Precisamos nos permitir experienciar, entrar na pele dos Outros. 

Tenho aprendido cada vez mais a deixar minhas emoções fluírem, mostrando os caminhos que preciso percorrer. O auto conhecimento só acontecerá quando pararmos de nos controlar e de nos reprimir. Para se auto conhecer é necessário navegar até por águas de tormentas e de tempestades. Sei que existem demônios (entendam como metáfora) incontáveis dentro de nós que podem nos impedir de se entregar. E muitos acabam se entregando à arte para escapar, fugir de si mesmos a fim de não enxergarem seus demônios. Será que conseguem? Talvez. Seria uma vida vivida plenamente? Não, com certeza não, afinal não se entregarão e não expurgarão suas dores e sofrimentos, sublimando-os no futuro ou aprendendo a superá-las. 

Vamos então experienciar a arte e a literatura para sentir, para nos conhecer verdadeiramente, indo até os confins e montanhas espinhosas de nós mesmas e de nós mesmos? Está com medo? Não fique, você não está sozinha ou sozinho. Ninguém está. Permita-se e pegue na minha mão. Façamos o caminho até onde der. Cuidado com as pedras e os terrenos íngremes... Pronto, estamos avançando. Um passo de cada vez. Caminhando, caminhando, caminhando... Agora terei que seguir aquele outro caminho, entretanto saiba que estarei por perto, mesmo que tenhamos jornadas e aprendizados diferentes. Cada um precisa se enfrentar e aprender a lidar consigo mesmo e com as experiências sozinho ou sozinha, mas podemos compartilhar essas experiências em um roda, o que acha?

 Pois, até mais e cuidado! 


Bônus


Escute lendo este post e flua, se deixe imergir



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