Queimamos bibliotecas todos os dias: reflexão sobre o uso das redes sociais e a disseminação de fake news




Como afirma Jaron Lanier — um dos fundadores da internet como conhecemos —, as redes sociais podem ter se transformado em ambientes propícios para a disseminação do ódio e do preconceito, pois permitem o anonimato e a possibilidade de falar tudo aquilo que muitos temeriam dizer pessoalmente. Na obra do autor citado, Dez Argumentos para Deletar agora suas redes sociais, ele detalha passo a passo como a rede de computadores colaborou na eleição de líderes extremistas em vários lugares do mundo. E como foi isso? Por quê?

A partir do momento em que as redes sociais, como Instagram, Whatsapp, Facebook, Snapchat — entre outras — são utilizadas como mercado livre para grandes empresas mundiais, as pessoas se tornam também mercadorias a serem leiloadas e compradas por essas mesmas multinacionais. Portanto, a informação verdadeira não é o foco das empresas e, sim, o número de visualizações, de curtidas, de comentários e de compartilhamentos. Ganha quem acertar e conseguir mais telespectadores e mais ‘mercadorias’. 

Assim, nesse sistema as notícias ou informações falsas ganham mais holofote, atenção e são mais compartilhadas. Consequentemente são espalhadas e negociadas pelas companhias para atrair mais consumidores. Muitos políticos foram eleitos por causa dessa atenção, ainda que divulgassem discursos de ódio e mentiras, infelizmente. Afinal qual ser humano não fica curioso ao ver uma manchete em letras maiúsculas que reproduz nosso ser comum, não é?

Jaron defende, pensando sobre como as fake news circulam rapidamente, que a internet se tornasse paga, porque dessa forma poderia não ter tantos anúncios e pessoas mal intencionadas por trás dos bastidores orquestrando contra a ciência ou o conhecimento sério. Por ter participado do início da criação desse sistema de algoritmos, o estudioso atualmente faz palestras alertando sobre os perigos que a web apresenta para nosso cotidiano, para  a nossa maneira de enxergar a realidade e as diferenças. 

Muitos especialistas têm apontado para o abismo que pode piorar com a realidade virtual que cresce dia após dias. As reflexões trazidas é de que ocorram mudanças no funcionamento desses algoritmos. Além disso, há um constante trabalho de conscientização sobre o uso da internet realizado por diversos cientistas e pesquisadores. 

Todavia, sabemos que essa conscientização também deve ser concretizada através de nossas ações diárias. E se todo mundo pensasse sobre o quanto aquele comentário de ódio ou de preconceito pode ter sido uma reprodução de uma postagem de algum político ou figura política, pública mal intencionada? Já pensamos o quanto existe uma naturalização desse tipo de atitude na sociedade? Não? Nunca é tarde, afinal, só um trabalho coletivo, seja de estudiosos, conhecedores de assuntos específicos, científicos ou os mais leigos, como nós, pode também mudar a utilização das redes sociais. Precisamos contribuir para um olhar mais crítico sobre o perigo de compartilhamentos de fake news e notícias sensacionalistas. E mais, somente com pressão social, as empresas e os governos mais conservadores e extremistas mudarão suas atuações, deixando de controlar as nossas vidas, nossos direitos e nossas escolhas. Cultivar a diversidade é necessária. Foi e é assim desde o começo: a consciência de nosso poder e  nossa voz tornam possíveis mudanças reais. Vamos ser críticos, políticos e prestar atenção ao nosso entorno?

Não deixemos mais bibliotecas serem queimadas pela ignorância e arrogância de uma minoria, que deseja somente poder e pensa em si mesmos como o centro do universo. Não deixemos. Sejamos vozes dissonantes. Sejamos. 



Outra tirinha de Andre Dahmer.


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