O absurdo no cotidiano: resenha de A Cartomante de Machado de Assis

Fonte: Faculdade Zumbi de Palmares colore fotografia de Machado de Assis, 2019.

Machado de Assis

Nascimento:
21 de junho de 1839 

Morte: 
29 de setembro de 1908



Machado de Assis, autor aclamado do Realismo, reconhecido mundialmente e nacionalmente, possui inúmeras obras marcadas pelas temáticas existencialistas, irônicas e absurdas sobre a realidade ou o post-mortem, o depois da morte — Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) é um claro exemplo disso. Contudo, o escritor carioca negro ficou famigerado pelo foco em relacionamentos amorosos, adultérios ou suspostas traições, sendo lembrado pela discussão polêmica de Dom Casmurro (1899): “Capitu traiu ou não traiu Bentinho?” . Embora essa pergunta não seja a melhor abordagem para interpretar a obra, afinal, dada a sua complexidade, serão necessárias mais análises e interpretações aprofundadas.

Sobre adultério é o conto de oito páginas, disponível em domínio público, “A Cartomante” (1884). Ao trazer as personagens Camilo, Rita e Vilela, somos apresentados a um Rio de Janeiro que começa a passar por seu processo de modernização, mas, ainda está preso às crenças e superstições de um passado, representadas em Camilo, Rita e a figura emblemática da Cartomante, conselheira amorosa de Rita. Como assim? Calma, cara leitora, caro leitor, me acompanhem e vocês irão me compreender. 

Dada essas simbologias, percebidas depois de algumas leituras, nós sabemos inicialmente do triângulo amoroso entre as três figuras citadas acima. Rita casada com Vilela, mantêm um caso com Camilo, amigo de ambos. E como era de se esperar, o caso entre os dois pode ter sido descoberto, dessa maneira, Camilo começa a se afastar e diminui as visitas à casa de seu amigo de longo data, o que, todavia, só aumenta as suspeitas. Ainda mais, ao sabermos durante a narrativa do recebimento de cartas endereçadas ao traidor, do tipo: “eu sei o que você fez no verão passado”. 

Com as suspeitas, a distância enfrentada, a insegurança e a incerteza, Rita sente necessidade de visitar a tal cartomante, para saber o seu futuro com o adúltero. Apenas com essa ação, causa da zombaria de Camilo no início, pôde sentir-se calma e confiante novamente. Terá sido uma decisão boa? Descobriremos no decorrer da leitura.

Ainda que a linguagem do conto seja rebuscada e próxima do português de Portugal, visto que é do século XIX, quando o Brasil estava se construindo como nação, a dramaticidade e a fluidez do enredo nos deixa reféns, em suspenso, esperando o desenlace, o clímax final. Será que Camilo e Rita conseguirão escapar das suspeitas? O que acontecerá no final? Só lendo para descobrir essas perguntas e muitas mais, especialmente: por que o título é a cartomante? Pense. Não se engane com interpretações rasas, quando se trata de Machado de Assis, desconfie de tudo, de todos, de qualquer “mero detalhe”. 


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