Desconstruindo preconceitos sobre problemas mentais: um exemplo de redação do ENEM

Olá, gente! Espero que estejam bem. Hoje trago um post com um exemplo de redação nos moldes do Exame Nacional do Ensino Médio, ENEM, escrita e proposta durante as aulas de redação que ministro no Ensino Médio. Espero que ajude nas suas aulas, caso sejam professoras ou professores, como também na própria reflexão sobre como as pessoas com distúrbios ou problemas mentais são tratadas em sociedade. 


PROPOSTA DE REDAÇÃO

 

A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema: Mídias sociais: a retratação da saúde mental é problemática ou facilitadora para a discussão de problemas sociais?, apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

 

TEXTO 1

A indústria cinematográfica tem comumente mostrado uma imagem deturpada da saúde mental. E a questão não é o cinema retratar temas tabus, mas exibir representações que vão do sentimentalismo ao sensacionalismo.

Nesse contexto, a perspectiva de Mad to Be Normal, filme biográfico do psiquiatra RD Laing, dos anos 1960, lançado em serviços de vídeos sob demanda no exterior, parece intrigantemente novo. O ator David Tennant representa Laing, uma figura complexa e carismática, que ganhou fama por seu tratamento radical e empático de transtornos mentais.

Laing tinha frases fortes. Ele descreveu a insanidade como um "ajuste perfeitamente normal para um mundo insano" e argumentou que a sociedade tradicional foi responsável por "levar nossas crianças à loucura". Ele recomendava LSD a seus pacientes adultos. E também lutou contra seus próprios demônios, incluindo o alcoolismo e a depressão.

De sensacionalista para sensível?

O psicólogo americano Danny Wedding diagnostica várias questões em seu livro Movies And Mental Illness (Filmes e Doença Mental, em tradução livre)."Filmes como Psicose (1960) perpetuam a continuidade da confusão sobre a relação entre a esquizofrenia e o distúrbio de identidade dissociativo (antes chamado de transtorno de personalidade múltipla); Sexta-Feira 13 (1980) e A Hora do Pesadelo (1984) perpetuam a concepção errada de que pessoas que saem de hospitais psiquiátricos são violentas e perigosas; produções como O Exorcista (1973) sugerem ao público que a doença mental é equivalente à incarnação pelo diabo; e filmes como Um Estranho no Ninho (1975) dão razões para enxergar hospitais psiquiátricos simplesmente como prisões em que há pouca ou nenhuma consideração pelos direitos de pacientes ou por seu bem-estar. Esses filmes são em parte responsáveis pela continuidade do estigma da doença mental". (Trechos de Como o cinema estigmatiza os problemas de saúde mental, BBC, 11 nov. 20018. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/vert-cul-45767199 ).

 

TEXTO 2

 


(DAHMER, A. Quadrinhos dos anos 10, 2016).

 

TEXTO 3


“Tudo Bem Não Ser Normal é uma jornada extraordinária para a cura emocional para Mun Young (Seo Ye Ji), escritora de livros infantis que sofre de transtorno de personalidade antissocial e Gang Tae (Kim Soo Hyun), um homem altruísta que trabalha num hospital psiquiátrico. Depois de se conhecerem, os dois lentamente começam a curar as feridas emocionais um do outro.” adaptado de imdb.com e @asianocinema .

Drama que foi divulgado por tratar de uma história entre duas pessoas que se apaixonariam e curariam as feridas psicológicas um do outro não é uma história em que os fins justificam os meios; é, porém, um processo que retrata traumas, saúde mental, interações pessoais e suas recorrências na vida. Em outras palavras: como estas feridas ainda expostas influenciam as atitudes e as relações dessas pessoas.

“There was once upon a time and all people have stories their own” são versos da música de abertura que numa tradução literal diz que todas as pessoas têm suas próprias histórias. Em Tudo Bem Não Ser Normal, são apresentadas as histórias de vários personagens e tenho certeza que pelo menos com um deles você poderá se identificar. (Tudo Bem Não Ser Normal – Drama na Netflix sobre superação de traumas, Brasil Korea, 21 ago. 2020. Disponível em: https://www.brazilkorea.com.br/tudo-bem-nao-ser-normal/ ).


INSTRUÇÕES

  • O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.
  • O texto definitivo deve ser escrito à tinta preta ou azul, na folha própria, em até 30 linhas.
  • A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá o número de linhas copiadas desconsiderando para efeito de correção.

 

Receberá nota zero, em qualquer das situações expressas a seguir, a redação que:

  • tiver até 7 (sete) linhas escritas, sendo considerada “insuficiente”.
  • fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo.
  • apresentar proposta de intervenção que desrespeite os direitos humanos.
  • apresentar parte do texto deliberadamente desconectada com o tema proposto.

 


REDAÇÃO ENEM


Mídias sociais: a representação da saúde mental é problemática ou facilitadora para a discussão de problemas sociais?

Descontruindo preconceitos sobre problemas mentais

Thalya Amancio

 

É sabido por estudiosos, cientistas e trabalhadores da saúde, especialmente àqueles de hospitais e clínicas psiquiátricas, que existe uma deturpação no meio social do que são as doenças e os distúrbios de caráter neurológico. Essa incompreensão causada pela ignorância, indiferença ou negligência de muitos sobre o assunto, dificulta a possibilidade de tratamento eficaz, assim como, a falta de representatividade realista de pessoas com doenças mentais nas mídias sociais, difundindo imagens errôneas e estereotipadas desses problemas, afinal, se o produtor ou a produtora dessas obras não estudou ou desconhece o tema, não conseguirá representá-los de maneira real. 

Logo, novelas, séries, filmes e livros que abordam o tema de forma profunda e complexa são necessários e relevantes, visto que transformam o olhar do espectador ou consumidor da obra midiática, artística ou literária. Contudo, essa ainda não é uma realidade famosa ou divulgada, pois o que mais conhecemos são filmes ou livros como Psicose, Sexta-Feira 13 ou O Silêncio dos Inocentes, em que persistem confusões sobre o que são psicose, esquizofrenia, distúrbio de identidade, psicopatia, sociopatia, transtorno pós-traumático entre outros. A lista de más representações é infinita, enquanto as boas não são. 

Assim, a ignorância sobre as patologias psicológicas continuam sendo propagadas, impossibilitando a discussão social e um olhar humanizado para pacientes e pessoas vulneráveis que apresentam depressão, ansiedade, transtorno de déficit de atenção, como também os já os citados acima. Então, mal representados, tornam-se excluídos e marginalizados socialmente, complicando o acesso a atividades teraupêuticas ou, claro, na socialização dos indivíduos. 

Dada essas informações, torna-se fundamental que ideias atualizadas, sensíveis, tanto de leigos, mas principalmente de pesquisadores, conhecedores da saúde mental, sejam cada vez mais difundidas pelas redes sociais, pela Tv, internet e, sobretudo, pelas escolas, espaços primários essenciais para a formação cidadã e para a tomada de consciência. Ademais, é imprescindível que o Estado, o Governo Federal e outros órgãos, de federais à municipais, trabalhem juntos, auxiliando e desenvolvendo projetos que formentem o acesso de informações para a população, a capacitação de profissionais de saúde, como psiquiatras, psicólogas(os), enfermeiras(os) etc, ajudando na resolução da problemática, já que é primordial que as instituições corroborem com tratamento efetivo e humanizado. Através de união conjunta de toda a sociedade, poderemos assistir a novas representações e novas esperanças de melhoras, nas telas e na vida fora delas.

 

 

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