A finitude do mundo

Há mais de um mês que não escrevo no blog, seja por conta da rotina da faculdade que exigiu muita energia, ou mesmo por faltar palavras e assuntos para escrever (pelo menos aqui no blog, porque no cotidiano surgiram diversas reflexões, pequenos insights e até epifanias).
E por isso resolvi compartilhar uma dessas epifanias nascidas de uma viagem; é sabido que viajar, se encostar numa janela e ouvir, ver pessoas com diferentes planos e objetivos traz pensamentos e memórias; viajar traz lembranças, recordações e como uma nostalgia constante tem se ancorado na existência, descobri muitas partes de mim e dos outros através dessas viagens. Meio que estou colando pedaços e retalhos de conversas (somos retalhos e experiências, mas sim, criamos uma identidade a partir desses encontros e até desencontros, o que me lembra o que o teórico russo Mikhail Bakhtin disse: somos outras vozes, porém podemos discordar ou concordar delas e, assim, criar a nossa própria; assumimos uma atitude responsiva, não somos meros receptáculos de outras ideias). E me desculpem o grande parêntese, grande influência de Marcel Proust.
Enfim, aqui transcreverei o tal escrito, introdução a um futuro ensaio, quem sabe. No entanto, por enquanto, apenas um retalho de pensamentos...

(Pintura Ninfeas de Claude Monet)


Arte e literatura: metáforas da realidade

Andei refletindo...
Já sei porque observo tudo cuidadosamente. Eu observo o mundo num desejo de capturar o maior número de detalhes. Pode parecer um ideal romântico, talvez seja, mas acho que todos deveríamos tentar ao máximo capturar as nuances existenciais. O mundo é finito, o tempo é finito*.

O que fazer? Guardar algo dele em nossa memória, mesmo que de certa forma deturpado e metafórico, afinal o outro existe fora de nós. E por sinal, independente de nós (e diga-se até indiferente).
E como fazer? Deveríamos parar, estagnar, paralisar e observar? Quando possível. 

Aliás, as palavras também são metáforas da realidade... A realidade não é estática, mas criamos a arte e a literatura porque tememos perder seu detalhe. (Just one theory) Enquanto escrevo, perco o mundo? Seu verde, a respiração contínua de vidas, os olhares perdidos olhando o futuro, passado ou presente... Perco sua vivacidade. A arte imortaliza ou mortaliza a vida? 

É frustrante perceber que o mundo não pode ser guardado numa caixinha ou bola de vidro e exatamente por essa razão é belo? Sim. É belo ver e vivenciar sua realidade. 



*claro que essa finitude está ligada a nossa efêmera existência; aqui eu poderia também abrir para uma reflexão sobre uma visão infinita de certo momento: às vezes temos a sensação de "infinitude" de um momento. Um acontecimento pode se tornar infinito? Uma dor pode parecer infinita? Provavelmente alguém já refletiu sobre isso há muito tempo, logo não sou original. Ninguém é. As vozes anteriores vivem... Meu pré-ensaio se tornou um devaneio, contudo ensaios são construídos de devaneios e deixo minha liberdade para recriar os outros: na natureza nada se cria, tudo se transforma.



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