Insights regados a boa música + Últimas leituras

A sensação de descobrir uma nova música: euforia, renovação. E imagine a descoberta de uma nova banda, aquela bem desconhecida. Um achado no meio do mar, oceano da internet! A mil léguas submarinas, ali está, nas profundezas? Ás vezes.
Não sou técnica em música, não tenho quase nenhum conhecimento em música, por isso esse ensaio/devaneio será pessoal. Irei andar apenas por caminhos conhecidos, por enquanto. Pretendo indicar canções ótimas e desconhecidas (de muita gente). Nas férias eu me torno uma caçadora de boas canções, segundo minha concepção, boas músicas têm letras críticas e melodias que se encaixam com essas letras. Claro que a interpretação do cantor é um contribuinte para a imersão, nesse novo mundo. Música boa então faz imergir em um novo cosmo que a vida efêmera e limitada impede na sua correria. Definido, acabei? Não, os dedos ainda fervem e o sangue "adrenálico" corre por baixo de minha pele.


(Melancolina de Evard Munch, 1894)

Eu nasci numa melodia, sem harmonia; uma sinfonia do corpo que crescia, doía, cantava.
A humanidade sempre quis fugir da solidão e a arte se tornou sua canção; sua maneira de soltar um grito e lançar sua voz, mesmo que rouca e quebrada. Somos seres "inarmônicos". A arte se tornou um instrumento, como é a colher, as máquinas, a tecnologia. E por que a arte é tratada como atividade ociosa, de vagabundos?
Talvez porque vivemos na pressa (Such a rush) e como a sociedade exige uma atividade que gere dinheiro também de forma rápida, a arte é relegada e foi durante muito tempo "regida" somente pela elite intelectual.
Meu texto tomou ares de escrito acadêmico? Não, só um pouco. Mas a arte admite essas idas e vindas, afinal não está desconectada da realidade. Mesmo imergindo em outro mundo com a música e a arte, impossível não vê em si mesmo a própria realidade. Somos os resquícios da realidade. E a arte somos nós. Toda canção guarda a história de um tempo. Parece óbvio, mas muitos apagam e esquecem que nossos traços estão marcados, escritos na história. Esse esquecimento é muito tratado e estudado pela Análise de discurso...
Eu já deveria ter concluído porém esse desejo de continuação ocidental persiste em mim... Todavia é hora, a melodia se estende, contudo capenga, trôpega. Melhor finalizá-la.




Últimas leituras

O Mundo insone de Stefan Zweig 



O ensaísta e biografista Stefan Zweig foi conhecido para além apenas da escrita, sendo amigo de figuras de grandes da literatura, cientistas e estudiosos, como Herman Hesse, Hannah Arendt, Romain Rolland entre outros na obra com a coleção de muitos de seus ensaios publicados em jornais e proferidos em grandes eventos, O mundo insone, traz lembranças e memórias sobre sua juventude, pessoas, escritores e sonhos que o inspiraram a escrever. Esse fato contribuí para a rápida identificação e empatia pela escrita, mesmo que às vezes o autor pareça utópico e sonhador demais. Entretanto sabe-se que é necessário crenças e isso não falta nesse ensaísta. O gênero mais aberto e livre se encaixou perfeito para Stefan, um utopista, um homem cheio de nostalgia e melancolia palpável em todas as palavras.

Norwegian Wood de Haruki Murakami

Depois da novela Sono, dessa vez me arrisquei num romance. E que risco! Terminei a leitura desnorteada e pedindo uma continuação, ao contrário do final com sabor de solidão que contamina.
Essa solidão e constante busca por significado, somente com alguém, foi o tema principal da obra que faz alusão à música Norwegian Wood dos Beatles, preferida de uma das personagens.
Se lermos com uma percepção mundial/universal, poderemos perder a perspectiva de um Japão dependente e consequentemente de uma sociedade solitária e sem esperanças de futuro. Daí também uma das causas para a alta taxa de suicídio japonês, além da pressão imposta sobre os jovens, claro.
De início, o jovem Watanabe, o protagonista, já tem que se deparar com o suicídio de  seu amigo - Kizuki. A morte e a vida então passam a ser irmãs; e dando uma definição quase espiritual, as duas se tornam gêmeas, já não são extremos opostos. Os vivos já não parecem totalmente separados dos mortos; as lembranças e memórias continuam vivas.
Uma pessoa ainda o une a Kizuki: Naoko. Namorada e conhecida sua, por quem ele acaba se apaixonando, talvez exatamente por essa conexão do passado; por ainda temer ou não aceitar o presente e não desejar assim crescer, se tornar adulto.
Com descrições realistas e com poucos traços de orientalismo, podemos nos surpreender com a escrita sem as características tão esperadas dos japoneses de Haruki Murakami. Não que isso a deixe menos profunda, ao contrário a torna menos ambiciosa, mais mundana e se aproxima de nós, tão distantes daquela realidade.
A narrativa te prende ao remeter a outras obras literárias, à música como o próprio título já indica, e ao usar de narrativa de primeira pessoa e tornando assim difícil não se identificar, principalmente quando Toru tenta resgatar suas memórias, quase esquecidas/ apagadas pelo tempo, as escrevendo no papel.
Memórias essas surgidas e revividas ao escutar a canção Norwegian Wood quando viajava. Aqui pode-se ver mais uma vez esse tema: a memória atrelada aos outros sentidos. Como Proust, o protagonista de Murakami tenta redescobrir o que viveu. Mesmo que pareça uma atitude hercúlea ou impossível, porque o cronos é senhor da vida e existência e ele devora nossas memórias. Porém continuamos como Sísifo: carregando a pedra até o alto da montanha, mesmo que ela caia rolando novamente; recomeçamos.

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