Miniconto "Ela"

Ali estava ela, andando com eles. Perdida em devaneios, tentando escapar da dor de negar seus sentimentos.
Ela, a garota incompreendida. Talvez pelo drama que a bebida trazia, ela se achava incapaz de se conectar com eles. Ela estava perdida, fraca entre eles que conversavam e a faziam rir. E bem, ela bem que gostava disso. Não queria lembrar mesmo. Andando naquela cidade, ainda cedo na noite, virando a garrafa de vez em quando e dividindo com eles, ela se sentia mais leve. Menos consciente de a dor de se negar. Como Oribela, ela era incapaz de entender seus sentimentos e dar vazão a eles. Parece que a praticidade da realidade a impedia de dar vazão à eles.
Como seria bom não sentir... 

"A falta é a morte da esperança", parece até que eles resmungaram um trecho daquela canção. Aquela canção que a fazia ter nostalgia. Não, era só um delírio no meio das luzes da boate. Ela mal percebeu quando eles entraram, mesmo quando seu corpo começou a dançar ao som de uma música que desconhecia.
No rosto de todas as pessoas, estava o rosto de quem não gostaria de lembrar.
Como seria bom não sentir. Seu corpo se dobrava e respondia a instintos. A consciência pouco a pouco se desligava.
Horas depois, todas aquelas memórias não fariam mais sentido. E talvez a culpa por se perder de si mesma viria. E tudo que ela mais odiava era não saber. Por que escapar do sentir, mesmo que doloroso?
Como seria bom deixar-se sentir. Pensou horas, dias, anos depois. Tudo bem andar, se perder, mas nunca de si mesma.
"Meu bem, eu sinto sua falta e a falta é a morte da esperança." agora ela canta junto com a música. Amor fati. Aceitou que não pode ter tudo que quer. E ainda assim, a moça incompreendida não abdicou de viver. Vai viver. Show must go on.


Comentários

Postagens mais visitadas