O  país das maravilhas sucumbiu




Eu que achava saber tanto,
eu que me achava uma revolucionaria,
uma artista,
uma rocha,
inabalável, indestrutível,
sorridente.

A menina prodígio,
referência, símbolo
símbolo do engajamento político,
da utopia e da esquerda,
do empoderamento.

Essa menina está desmontada,
exausta,
perdida,
repleta de incertezas,
eles me acusam de traidora da revolução,
de mudar a direção,
de não sonhar com a revolução.

Mas Alice, Olga, Orwell,
Atwood, Mafalda escutem,
ouçam com atenção.
Vocês já olharam para o mundo atual?
Vocês saíram das páginas dos livros?
Abriram as janelas?

Há desemprego,
fome, ódio,
eles estupram mulheres,
eles exploram crianças,
eles derrubam sistemas democráticos,
disseminam mentiras,
eles ameaçam a arte, os artistas,
os poetas.
Perseguem a arte,
criminalizam a educação, a ciência,
inventam que a terra é plana.
A culpa dos crimes do Estado são impostos as vítimas.
Afirmo isso é absurdo, asneira.
São patéticos.
Eles não param.

Ah Drummond o medo venceu,
os tiranos ressurgiram.
Ou será que a tirania e ódio nunca foram extirpados?
Minha teoria senhor, senhora,
que esses males acompanham a história da humanidade,
clamamos por pacificação, segurança, amor,
mas somos uma cultura de intolerância,
autoritarismo,
o brasileiro cordial é um mito.
Elegemos até um mito,
um mito em forma de meme,
que foge de debates,
esbraveja nas redes sociais,
fragiliza a democracia,
se diz cristão,
ele é o oposto dos ensinamentos de Jesus Cristo.

Eles sugam sonhos,
manipulam e exploram a fé,
eles matariam Jesus,
eles se proclamam salvadores,
lideres.

Por favor me perdoem,
estou com medo.
Vocês preferem humanos, mártires ou ditadores?
O extremismo avança mundialmente.
A xenofobia e colonialismo imperam.
O ódio gera não apenas dor como também gera lucro.

O estado que diz preservar a vida,
seleciona quem vive e quem morre,
é uma guerra.
Uma guerra contra pobre, negro e periférico.
O capital senta a mesa com a política e a morte,
e assim fundi-se e alimenta-se a necropolítica.

A política do medo, da morte com apoio do estado.
E nessa guerra leitor, espectador escorre nas ruas sangue negro e pobre.
Nessa guerra crianças choram,
famílias são destruídas.
pais órfãos,
cemitérios lotados,
lutos contínuos,
sepulta-se pessoas,
que são noticiadas pela mídia,
como se fosse números,
como se fosse erro do Estado,
mas é tudo mentira,
não é um erro,
são escolhas,
é uma escolha política.

Esses tiranos estão no controle.
Oh Elis o sinal está fechado,
eles estão vencendo e levam junto o amor,
o perdão, a esperança.

Vozes são silenciadas,
câmeras em todas partes,
controle, mecanismos de controle em todas as partes,
Foucault estava certo,
a distopia deixou de ser ficção e já é real,
tão real, que não choca.
estão paralisados.
A democracia respira, chora como uma criança com fome e desejo de viver,
pedindo por ajuda, atenção.

Daqui a pouco queimarão livros,
a melancólica e ódio serão os únicos sentimentos permitidos e perceptíveis.
não haverá resistência,
pois a resistência será esmagada.

Quanto pessimismo,
afirmam os leitores,
mas é assim que caminhamos e toleramos.
É hora de mudar isso,
impedir,
pois daqui a pouco não haverão meios,
liberdades.

Preste atenção a ciência, a arte nos alertam,
reajam, impeçam o totalitarismo de vencer.
E nós?
E nós?
Paralisação, covardia.
A história não altera-se sem ação humana.

Parem a marcha,
escutem o silencio,
parem esse barulho,
escondam os espelhos Alice,
O país das maravilhas sucumbiu.

Uma opera fúnebre instalou-se,
 os teatros estão vazios,
pois a arte virou inimiga,
profana, perigosa,
nesse país.

O espetáculo sem artista,
o pássaro enclausurado,
democracias fuziladas,
um território em guerra,
eis o retrato e situação dessa nação.
eles estão vindo,
eles estão vindo.
o país das maravilhas sucumbiu.

Rogelânia Bezerra. 

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