Parir-se em MADALENA: processos de criação de uma poeta feminista

Li em algum lugar e acabei escrevendo em minha mente a seguinte frase: "Escrever é uma procura, um jogo entre superfícies e profundezas". Ela sintetiza o que vivencio há dez anos em meus processos de criação na poesia: gestando e parindo a mim mesma.
Recentemente, esse parimento materializou-se em meu primeiro livro de poesia chamado MADALENA. A obra é uma trajetória poética por entre as minorias sociais brasileiras e suas subjetividades. A partir de uma analogia à personagem bíblica e histórica Maria Madalena, busco falar sobre mulheres, pobres, lgbtqi+, moradores periféricos e trabalhadores assalariados a partir de suas experiências cotidianas e angústias existenciais.

Todo o processo criativo da obra foi realizado por mim, desde a arte da capa até a revisão dos textos. A arte da capa foi criada, originalmente, como um fanzine - visto que, sou zineira e ministro oficinas no Sertão Central Cearense - e remete às lutas em que estou presente em minha região: o movimento feminista e lgbtqi+. A escrita de cada poema constrói um processo de resgate de memórias e cura de angústias e traumas, sendo assim, "parir cada poesia" me permitiu "parir-me como mulher".



A gestação de Madalena levou cerca de três anos, contando o ano de escrita do poema mais antigo - Santa Decadência. Durante esse período, a escrita se tornou um instrumento de cura e autoconhecimento para mim. Visto que, ao participar de movimentos sociais tendemos a perceber as estruturas e situações que nos oprimem, e a partir disso, fiquei me perguntando quem eram essas pessoas oprimidas e de onde vinha tanta beleza e força para continuar vivendo e criando pessoas, artes, grupos de luta. É claro que esse processo de conhecer-me a partir do estudo, do encontro com minha classe e do encontro com o outro continua, no entanto, Madalena me dava sinal que era hora de ganhar mundo e eu não podia me opor à força desta cria.


A pari, justamente, em um cenário de isolamento social: poucos dias depois de sua publicação online, ela me diria a que veio. A poesia "Traçou-me a Traça" - videopoema disponível no YouTube - colocou-se como um vômito lírico contra a violência doméstica contra as mulheres, a qual vem crescendo assustadoramente durante o confinamento doméstico. Sendo assim, a poesia caminha junto à luta social, visto que, não podemos nos calar diante da nova epidemia que nos acomete: a da violência doméstica contra as mulheres, que vai desde distribuição desigual nas tarefas da casa - que leva ao exaustão físico e mental das mulheres - até a exploração e abuso sexual.


Caso tenha-se interessado pela obra, ela está disponível na plataforma digital Wattpad, ou seja, o livro está disponível para leitura gratuita e online

Espero que esta cria possa acalentar e encorajar à cada um de vocês nesse momento. Grande abraço, 🌻. 

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