Série Bloodlines, a quebra de dogmas e o ser brasileiro, vivente e marcado: solidão, dores e pesares

(Fotografia de Thalya Amancio)



Nessas duras semanas de Quarentena e de isolamento social, me peguei desestimulada e desconfiada com o futuro de nosso planeta e de nossa História. Não que eu já não fosse, como eu bem me declarava "elétron" desde meados de 2018 (o que quer dizer que me considero pessimista ou realista, segundo diferentes e/ou perspectivas. Mas, assistir a derrocada da Política, da Economia e da Saúde no Brasil, têm sido cada vez mais difícil. Há uma constante negação de fatos, da Ciência, da Pesquisa e da Investigação. Como se já não fosse gritante que a ignorância e os boatos, as famigeradas Fake News, já não estivessem presentes há muito tempo. Porém nesse momento, todo o negacionismo apenas funcionou como cortina de fumaça para o real perigo e a própria realidade. Negar ou relativizar o que está acontecendo, não deveria ser normal ou comum. Mortes nunca devem ser diminuídas, obviamente, mesmo que a insensibilidade e falta de empatia reinem. E para aumentar nossa preocupação, cansaço e ansiedade mentais, o racismo surge com força total. Um problema gigante de muito tempo, uma dívida histórica, aliás, que só se torna mais vísivel depois dos protestos e da revolta que os estadunidenses de Minneapolis resolvem não aguentar mais a violência já estruturalizada estatalmente. 


(Série The Handmaid's Tale, baseado no livro homônimo O Conto da Aia em tradução)


Esse é um desabafo e caso você leitor ou leitora, que acha uma absurdo a 'politicagem' que minhas colegas, amigas e eu fazemos no blog, digo que não precisa concordar, contudo se sua opinião fere o princípio dos Direitos humanos e de respeito ao outro, ainda que diferente, não é opinião. Se informe, questione e aceite que talvez você esteja errado. E para você que concorda com a torrente de palavras de alguém já exausta diante do cenário atual, não se cale, não podemos deixar que o ódio se prolifere. Já não bastava a dor e o medo da COVID-19, agora tememos também, como em Gilead de O conto da Aia de Margaret Atwood, sermos calados e ser então instaurado o paraíso dos conservados, patriotas que zelam por um país em que só suas famílias e as grandes empresas serão defendidas. 
Quem dera fosse o patriotismo que recebe e aceita a diversidade do Brasil: os negros, os índios, as mulheres, os gays, trans, homens... Todos sendo assistenciados de acordo com suas diferenças; a equidade. Um patriotismo que busca as raízes do país, tal qual Policarpo Quaresma almejava: a língua Tupi, sua música, seu povo, seu solo... E assim, por tanto sonhar com isso, fora alvejado, destruído pelo que tanto amara. Não, não haverá esperança para esse povo, latino americano e brasileiro? Onde andará a esperança, como conclama um poema de uma querídissima professora, Vandênia. 


(Série Bloodlines na ordem de leitura: 1º Laços de Sangue, 2º O Lírio Dourado, 3º O Feitiço Azul, 4º Coração Ardente, 5º Sombras Prateadas e o 6º O Círculo Rubi


Enfim... Diante de tantos pesares procurei um alívio lendo uma série com muitos clichês, reviravoltas e uma história de amor proibido: Bloodlines, uma série com personagens da Academia de Vampiros, contudo, agora com foco na alquimista Sydney Sage e no vampiro Adrian Ivashkov. 
Todavía, eu não esperava que também me trouxesse certa melancolia, não só por nao poder viver um amor tão completo e profundo como os dois vivem, claro, como também pela dor e obstáculos quase intransponíveis que os dois enfrentam. 
Ela por ser uma alquimista, deveria manter distância e nojo dessa raça chamada por sua organização, de o mau a qual os humanos deveriam ser protegidos. A organização tinha portanto o objetivo de proteger os humanos da existência dos vampiros. A estrutura da sociedade dos vampiros era dividida ainda pelos vampiros do bem: os dhampir, guarda-costas dos Morois, vampiros da realeza. E por fim, os vampiros do mau: os strigoi, esses sim, os imortais e responsáveis pelos crimes contra a Natureza. 

Entretanto, os Alquimistas ainda possuíam condutas muito firmes, religiosas e repletas de dogmas que mantiam os possíveis rebeldes sob controle. E quando Sydney se deixa se envolver pela percepção que os vampiros, os Dhampirs e os Moroi, especialmente a garota que ela deveria proteger contra assassinos e o Adrian, aquele que começa a lhe cativar, não eram como as lendas e mitos que os outros pintavam, seu mundo começa a ruir. Vocês podem imaginar as dificuldades que ela irá enfrentar... 
A leitura que me acalentou, de certa forma, principalmente no quarto para o quinto livro, me deu um soco na cara. Eu deveria ter esperado que Richelle Mead realizaria essa proeza, visto que no quarto da série Academia de Vampiros havia me trazido a mesma sensação. 
A série cresce e desenvolve o par romântico tornando-os palpáveis e reais, mesmo que traga junto clichês como a mocinha virgem, focada nos estudos e apaixonada pelo conhecimento. E um vampiro Bad Boy. Mas descobrimos que são clichês superficiais, já que Sydney não é nada ingênua ou Adrian é apenas um cara perdido. Eles apresentam suas particularidades. 
Alguns personagens não são mais desenvolvidos além de super protetores ou apaixonados. E cada um encontra seu par. Sabemos que isso é um problema que poderia ter sido resolvido com a apresentação de mais perspectivas/narradores, porém é o bastante quando no quarto livro aparece a perspectiva do  tal vampiro. 
Esses são empecilhos para a possibilidade de complexidade que as obras poderiam ter, mas, se tratando de um livro para jovens adultos e de fantasia, possui seus méritos: o amadurecimento da protagonista quando passa a conviver pelo trabalho/tarefa imbuída com vampiros; o desenvolvimento de Adrian para além de um homem que sofre por uma paixão não correspondida. 

É uma série que me ajudou a relaxar. Não inteiramente, porque me colocou sobre a situação de me identificar com Sydney, questionando suas experiências e percebendo que seu mundo era mais complexo do que pintavam. Era uma mundo mais diverso, mais rico, especialmente quando se percebe que o amor, empatia e coragem de ser quem somos, pode libertar de amarras que o sistema cria. 

(Autora da série Academia de Vampiros e Bloodlines, Richelle Mead) 


Isso é a matrix: não aceitar o diferente, se fechar em pré-conceitos e ideias pré-concebidas, presas a distorção de um real. Por que não questionar? 




(Autor português José Saramago)

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