Indicação de animes: maratonando e me conectando com histórias

Tenho lido mangás, livros, assistido muitos animes - animações japonesas - e, por isso, resolvi analisá-los de forma sucinta por aqui, selecionando alguns deles e estabelecendo análises e comparações, sem dar muitas respostas, afinal espero que fiquem interessados e procurem assistir. 

Ao preencher minha lista de atividades com leituras, com escrita e com estudos sobre literatura, noto cada vez mais que aprendo sobre mim mesma e sobre os mundos - ou diria cosmos - que me rodeiam. Assim, lendo, estudando e escrevendo. 

Consumir e produzir arte tem me deixado com muitas reflexões e indagações sobre as percepções da realidade e sobre a existência - conversar sobre arte também tem a mesma reação em mim. E quem acompanha o blog há muito tempo - ou leu os posts anteriores - percebe que sempre atrelei minhas análises, resenhas e devaneios em livros, mangás e animes, obras que tenho hábito de conhecer e me aprofundar. Não é de agora que eu indico animes, como podem pesquisar. 

Bem, então vamos lá?


1. Carole and Tuesday



Gênero: musical. 

Nº de episódios: 24 episódios (2 temporadas).


Como fã e apreciadora de Nana, foi com alegria que coloquei Carole and Tuesday na minha lista desde 2019, contudo só agora em 2021 que finalmente assisti. E maratonei. Sim, eu não tenho o costume de maratonar séries, mas animações é moleza para mim (haha). Principalmente se tratando de uma com uma leveza e uma sensibilidade tão belamente construídas, como foi o caso de Carole and Tuesday. Sensibilidade na diversidade de pessoas e artistas diferentes envolvidos na produção, diga-se de passagem.

Criado e dirigido por Shinichiro Watanabe, o mesmo de Cowboy Bebop, Samurai Champloo e Terror in Ressonance (Zankyou no Terror em japonês), já podemos presumir o quanto a história desse anime será brilhante - também no aspecto visual, acreditem. Com foco nas personagens do título, Carole, uma garota que vive na cidade grande sozinha e não tem família ou parentes e Tuesday, uma garota rica com uma família que não se importa com seus sonhos (acrescente uma mãe autoritária e política influente), nos veremos atrelados a uma sociedade tecnológica fundada em Marte - isso, no planeta vermelho! -, quando até a música é feita pelas inteligências artificiais (as IAs). No entanto, este não virá a ser o caso das duas garotas...

E como as duas garotas se encontrarão, sendo tão diferentes? Logo no início da animação, veremos que Tuesday fugirá de casa - pensando constantemente em Cyndi Lauper - para viver seu sonho de fazer e tocar música. Na cidade grande, Alba, como é chamada, elas se encontrarão e perceberão que seu amor pela música pode as levar longe... E realmente, com suas motivações, seu passado (o background delas, podemos dizer), entraremos de cabeça na compreensão de que a história revelará o quanto a arte é libertadora e divertida quando fazemos com o "coração". 

Acabamos notando também uma crítica a indústria musical ao visualizarmos figuras, personagens muito parecidos com os reais que conhecemos: uma personagem procura produzir música de acordo com as intenções do público. E não produz no sentido de trabalhar ela mesma, mas deixa a tecnologia fazer seu papel; outro escolhe o sucesso através do espetáculo e não na música. Além disso, existem muitas críticas sociais, a xenofobia e ao preconceito com personagens porque são refugiados da Terra - que se tornou inabitável depois de um acidente nuclear. Por exemplo, alguns políticos crescem nas pesquisas em cima do ódio e do medo da sociedade em relação a pessoas vindas da terra - e a Carole é uma dessas que vieram da Terra e que moram em Alba desde sua infância. 


Curiosidade: a cidade de Alba também aparece no filme de Cowboy Bebop.

Ouça




Nota: 9,5/10,0

2. Orange





Gênero: Slice of life, Seinen.
Nº de episódios: 12 episódios


E se pudéssemos voltar no passado? Diminuiríamos nossos arrependimentos? Mudaríamos alguma coisa ou só pioraríamos tudo? Seria fácil resolver nossos problemas ou iríamos contra o que somos?

Orange de 2016 irá desenvolver seus episódios ao redor da culpa e dos arrependimentos de vários personagens, amigos que se afastaram por conta de um certo acontecimento... 

E claro, como amante de histórias sobre viagens no tempo - citaria muitas como o clássico De Volta para o Futuro e  a série Dark -, fiquei estarrecida e emotiva com a ideia geral do anime: Naho Takimiya recebe uma carta de sua eu do futuro - eu de 11 anos no futuro, esclareço -, dizendo tudo que aconteceria naquele dia. 

E a principal instrução é: preste atenção e seja amiga de Naruse Kakeru, um estudante que será transferido no mesmo dia que a protagonista tímida recebe a carta. Inicialmente, ela não chega a acreditar, porém tudo que a carta descreve começa a acontecer e Naho percebe que não pode negar a verdade. E ainda assim, ela se sente incapaz de mudar algo. 

As temáticas abordadas serão então o arrependimento, a culpa, mudanças temporais e, pasmem, depressão. Se muitas pessoas pensam que animes são somente voltados ao público infantil, se enganam. Existem estereótipos nessa história - a personagem tímida, o amigo atraente e popular, a amiga inteligente e um casal que se detesta etc - , é óbvio, no entanto relevamos quando adentramos na carga dramática e densa do personagem Kakeru.  

Ao explorar a depressão a história se aprofunda e se torna única, singular e muito relevante para pensarmos sobre as relações que construímos e sobre as nossas escolhas. 
E se mudássemos o passado, o que aconteceria? E qual a importância de se atentar às dificuldades, preocupações de uma amiga ou um amigo e conversar, se comunicar? 

Muito me lembrou o filme Koe no Katachi ou A Voz do Silêncio ao trazer a importância do diálogo. 

Seria o silêncio uma falta de compreensão?


Nota: 9,0/10,0


3. Zankyou no Terror




Gênero: suspense, mistério, shounen.
Nº de episódios: 11.

Terminei esse anime em uma noite e fiquei impressionada com a minha rapidez (outra maratona). Isso aconteceu com todos os quais estou listando e indicando. Em Zankyou no Terror teremos uma atmosfera amedrontadora, misteriosa e fascinante. Em uma espiral, somos arrastados juntos com a protagonista Lisa, uma garota depressiva que sofre com a carência e dependência exacerbada de sua mãe. 

Ao descobrir que dois de seus colegas, Nine e Twelve - que fingiram ser estudantes comuns - estão na verdade envolvidos em explosões e são considerados terroristas, ela se vê na difícil posição de esconder aquilo ou contar, denunciá-los e morrer, como foi ameaçada por Nine, o cara descrito por ela como de "olhos frios". 

Mas... Será que eles seriam capazes disso? Twelve e "seu sorriso quente" parece não concordar em matá-la. Sem conhecê-los mais profundamente, para qualquer um, já que planejam atentados e desenvolvem bombas, com certeza eles são perigosos. 

Muitos atentados estão ligados a eles que se autodenominam como a esfinge, uma clara referência a figura mítica presente em Édipo Rei - o mito de Édipo, relembrem - que devora seres humanos que não decifram seus enigmas. Soltando vídeos pela internet, ambos esperam que a polícia desvende suas charadas e desarmem as bombas que colocaram em lugares estratégicos da cidade de Tokyo. E o único policial que consegue solucioná-las é o Shibazaki que estava afastado - outro mistério a ser resolvido. 

"Decifra-me ou te devoro"

Permeado de mistério, vamos descobrindo aos poucos a personalidade dos personagens e o porquê de Nine e Twelve não possuirem um nome. 
Qual será o passado deles? Nos perguntamos.

E você, engendrado como vai ser, tanto por essa espiral de enigmas, quanto pela música e a animação, não conseguirá sair sem terminar e chorar (talvez). A mensagem desse trabalho do mesmo diretor e criador de Carole and Tuesday, vai além dos episódios e do que é mostrado claramente e explcitamente. As músicas, a trilha sonora demonstram letras que agregam ao nosso entendimento de Terror in Ressonance (também conhecido como Terror in Tokyo)

Ouça



Música importante para a história



Nota: 8,5/10,0


 

4. Shiki




Gênero: terror, seinen, suspense.
Nº de episódios: 22.


Não existem mocinhos, heróis ou vilões, pessoas boas ou pessoas más. A realidade não é só preto ou branco e esses duplos são inadequados. O que existem são pessoas que agem motivadas egoisticamente ou motivadas por outros fatores pessoais, emocionais ou sociais. A realidade é muito mais complexa - a análise que fiz sobre Shingeki no Kyojin revela os meandros desse tipo de história madura e mais realista. 

E Shiki, animação de terror de 2010 consegue pegar e prender o telespectador pelas reflexões filosóficas e existenciais sobre a morte, a vida, o altruísmo e a luta pela sobrevivência. Para além de sustos, os famosos jump scares, inexistentes aqui - esse é o anime para quem gosta de uma obra prima pautada no horror psicológico e nas "teias de pensamentos" * - somos levados a entender as perspectivas, as motivações e a humanidade presente no trabalho. Quando digo humanidade, lembro da empatia, da capacidade de se colocar no lugar do outro, na percepção de que os seres vivos possuem emoções e que devemos tentar entendê-los e conviver pacificamente com todos, sejam humanos ou não. 

Todavia, essa harmonia é possível? Conseguimos conviver com todos, nos vendo nesse 'Outro' ou só os enxergamos como monstros e exóticos? 

O primeiro episódio engana muito se pensarmos no restante. Parece até que destoa, mas não desista, mesmo que os traços romantizados, personagens magros e altos deem a ideia de que é um anime romântico sobre... Vampiros. Sim, vampiros. Isso não é um spoiler propriamente dito porque imagino que você viu em algum lugar... E ainda que fosse um spoiler, saiba que não revela nada da profundidade à la o melhor do horror. 


E a trilha sonora, como os outros que indiquei acima, é de hipnotizar... O que ajuda a construir a história primorosamente.


Ouça




Bônus




Frase marcante

"A morte é terrível para qualquer um. Jovens e idosos, pessoas boas e más, é o mesmo para todos. A morte é imparcial. Não há uma morte especialmente terrível. É por isso que é tão assustadora. Hábitos, idade, personalidade, riqueza, aparência... Tudo isso é insignificante ao enfrentar a morte" - Sunako Kirishiki


Nota: 10,0/10,0


*Lembrei muito dos contos de horror de Edgar Allan Poe, pois são escritos e desenvolvidos para fazer a leitora/o leitor pensar sobre a miséria humana, o egoísmo, o egocentrismo e o quanto somos pequeninos e insignificantes diante da morte. E para o terror/horror clássico, o que nos assusta mais é o desconhecido e a vastidão indecifrável do universo, vide H.P Lovecraft. 

 




Por hoje é só, gente. Sempre existirão análises possíveis e como eu só quis tentar fazê-los assistir e pensar, não me aprofundei muito. Espero que meu objetivo de picá-los - ou mordê-los haha - com a curiosidade tenha funcionado... Aliás, escrevi um texto quando terminei Zankyou no Terror e em breve trago editado. Quem sabe não funcione melhor para motivá-los a ver, não é?

Até mais!

Comentários

Postagens mais visitadas