ALICE, O QUE VOCÊ MATOU OU FOI ASSASSINADO EM TI?


ALICE, O QUE VOCÊ MATOU OU FOI ASSASSINADO EM TI?



Ontem eu tive um sonho estranho.
Ontem sonhei.
Foi um pesadelo.
Logo eu, Alice, logo eu,
Que sento a mesa com meus fantasmas.
Acolho minhas fragilidades.
Danço com ou sem som,
que acho o não convencional fascinante,
fui surpreendida e provocada.

Parafraseando Nietzsche,
aqueles que foram vistos dançados na chuva foram chamados de loucos.
E quem não enlouquece nesse mundo de injustiças,
violência, indiferença social, desafeto?
Perante pressões, com um sistema econômico brutal, desigual?

Nietzsche, o homem contemporâneo não dança mais,
foge da loucura,
da solitude,
do auto conhecimento.
E aqueles que subvertem a dinâmica social,
o modelo econômico,
o formato das relações,
a civilidade barbara,
é o louco,
o perigoso,
o sujeito bárbaro.

E o que resta para nós?
Remédios, relações superficiais,
Diálogos sem escuta, sem empatia,
mascaras faciais,
livros de auto ajuda,
prisões físicas.
Também há os instrumentos de tortura psicológica,
condições de vida sub humana,
violações aos direitos humanos,
tirania, exclusão social e medicalização.
Na contemporaneidade a cultura da medicalização e produtividade impera.

Nós falhamos Foucault.
O dilema é: subverter ou ceder?
O primeiro pode lhe sucumbi,
O segundo é ligar ao piloto automático.
Aceite as peças do jogo estabelecida, prescritas.
São escolhas...
Afinal que porra de liberdade é essa?

Sobre esse pesadelo na noite anterior,
não foi um delírio,
não foi criação de minha mente.
Minha mente não está debilitada,
não estou no Clube da Luta,
não sou nenhum dos personagens do filme Origem,
a ficção é atraente, porém é a realidade no qual vivo e ás vezes é a prisão.

Há diversas formas de prisão, sabia Alice?
Uma delas é a prisão emocional, mental.
Quantos de nós vivem ou são aprisionados em nossa mente?
Não são apenas sonhos que no decorrer da existência são assassinados, substituídos,
Versões nossas, sentimentos, pensamentos,
Concepções são mortos,
A morte caminha lado a lado com a vida.
A brevidade da existência é atacada e assombrada pela presença da morte.
A morte é o elemento surpresa e concreto do viver.

Sobre esse pesadelo, ele não foi algo comum,
foi estranho, horripilante.
E aqui estou escrevendo,
na tentativa frustrante de entender,
de vencer o medo,
de mostrar força e poder sobre ele.
Uma vez li uma frase que dizia: “aquilo que não dizemos, que guardamos, pode nos sufocar”.
Essa é minha reação, minha estratégia.
Eu já morri de tantas formas,
busco não morrer dessa vez,
eu sou uma fênix.
Quando a minha esperança morrer ou ser mutilada,
talvez eu não volte.
Há caminhos e tentativas que cessam, param.

Os perigos pesadelos, medos são aqueles que ficam impregnados em sua mente.
Caminham contigo nas ruas, invadem seus pensamentos,
paralisam suas ações, são difíceis de verbalizar,
descrever, te contaminam com ideias negativas.
Medos podem virarem traumas, tornarem seu ponto de vulnerabilidade.

O que há de mais assustador?
O que causa te causa mais medo?
Te paralisa?
Alguns dirão que tem medo de aranhas,
cobras, monstros, fantasmas, espíritos.
É comum associar o medo ao desconhecido, exótico.
Como se o perigo, aberração foi o desconhecido, o incomum,
Nada disso me assusta leitor.
Sou uma incrédula, cética.
Estou condenada a finitude, a não salvação.
Lido com ceticismo e pessimismo,
Sou uma discípula de Samarago e Charles Bukowski
meus mestres.

O que há de mais assustador,
Que encarar sua própria imagem em um espaço indefinido?
Você encara sua versão da infância, seu antigo sorriso,
sua esperança, doçura, que foram esvaziados, aniquilados,
Surge uma guerra interna, pessoal, política.
Sua infância em colisão e oposição com sua versão adulta.
Duas imagens, duas personalidades em embate, em confronto, em debate.
Adivinhem quem vence?
Nessa estória, nesse pesadelo,
quem vence e controla,
o vencedor é o presente.
Sendo assim contraditoriamente temos uma derrota,
perder a esperança, o riso,
tem percas, derrotas, rupturas.
Romper é aprender.
Aprender viver com o fim,
recomeços, com a morte.

Quando algo morre, se desfaz,
é substituído.
Células, fios de cabelo,
ideias, opiniões, amores,
paixões, sonhos, medos.
E você?
Alice, o que você matou ou foi assassinado em ti?

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