A vida é tão frágil como um papel

 


A vida é tão frágil que nem papel.
A vida é tão frágil.
Tão fácil de ser retirada,
arrancada, dissipada, esvaziada.
É como um suspiro, um sopro.

Recentemente perdi minha gata.
Me deparei com uma dura perca.
A perca da Olga me fez recordar de outras que tive no decorrer da vida.

Olhei de novo para a morte e exclamei: puxa, você aqui de novo?!
Por que vens?
Por que arranca-me um dos meus grandes afetos?
Por que vens e tira-me um pedaço?

Por que vens morte?
Já não lhe satisfaz ter arrancado de mim tantas pessoas queridas, insubstituíveis?
Não está contente por ter levado partes minhas a cada vez que vinhas?

Chega!
Não lhe dou esse direito,
não cedo,
não faço contigo consensos, acordos.
Contigo não lhe devo nada.
É tu a devedora, algoz, mesquinha.
Vá! E não volte!
Não é bem vinda.
Não quero explicações sobre finitude, ciclo natural, vital, sobre como tu és inevitável.
Não quero ouvi-la, não quero compreendê-la.

Deixe-me com às lembranças,
Com o sentimento da saudade.
Esse sentimento genuíno.
Que não pode ser preenchido,
Ocupado.
Por que ela se foi?
...

O amor, caro leitor é meio egoísta.
Você ama desejando a presença, o afeto, o corpo físico do outro.

Agora se inicia o processo da memória afetiva, saudosista.
Lembranças paradoxalmente tão vivas, potentes.
E você questiona se a ausência da presença física é a prova da morte.
Agora, eu entendo, está tão claro.
Lembrar também é amar.
Lembrar é uma tentativa nossa de falar para a realidade, para a morte: Ei, estou aqui com ele (a).
Há um pedaço comigo.
Essa lembrança, essa memória, você não pode apagar.
Não autorizo.
Elas compõem e são a única prova palpável, plausível da existência, do amor cultivado.

E ela se foi.
Havia tanto o que queria expressar,
mas abruptamente a morte arrancou.
Há tantos riscos em viver.
Uma bala, um trem, um coração doente.
Viver é uma experiência ímpar,
Morrer há tantas formas.
Antes me indagava se era possível sucumbir de tristeza, saudade,
Agora sei que é possível.

Agora vá,
Deixe-me sozinha com às lembranças, com a saudade.
Essa lembrança é sinal de amor.
Elas são minhas!
Vá e não volte.

_ Rogelania Bezerra

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